primeiro é pelo barro, terracota,
e depois o mármore.
depois se afeiçoa à cera perdida,que é o “infinito porque não tem limites”.
com a cera molda-se mais livrementemas uma vez que é revestida com o gesso
e o gesso, tornado negativo,preenchido de bronze, é levado ao forno,
o calor do forno desfaz tudo:cera, gesso e molde.
recriar O impossível por volta de três vezes— todas elas diferentes;
todas elas parecidas—
custou cerca de dois anos.tal tempo parece um disparate
(ou mesmo impossível)para alguém que está moldando algo como aquilo.
na escultura, duas figuras estão sentadas caraa cara, e de suas cabeças
saem dentes, afiadas garrase se olharmos assim, parecem
pentes de cabelose os pentes dessem-nos
um pouco de medo.O impossível se estica
e possivelmente alcançaa representação do desejo de desejar.
o observador é impelido a notar a selvageria,monstruosidade e invasão
alongadas numa texturalisa e erótica,
límpida e antropofágica.as figuras estão como dois amantes
prestes a se beijarse beijar fosse um ato afiado, corrosivo,
que deixasse lascase tirasse nacos.
um ato reservadounicamente ao nosso aparelho dental.
um atoque acontece no gerúndio.
o desejo, portanto, está aí:corrosivo e dental, salivando.
sem conter nada, mas sempre querendo
morder.
Paula Reis Vianna
Paula Reis Vianna
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