quarta-feira, 18 de junho de 2025

Aqui II


Ela foi-se.
Não há sombra de nuvem
neste solo ressecado pelo tempo
nem ar de lua no meu coração
naturalmente congelado em tua boca.
A fuga precisa dos olhos
para a firmeza do firmamento
já que sou humano
e pequeno diante das estrelas.


Edison Veoca

terça-feira, 17 de junho de 2025

Santa Teresa


Azul explosivo
verde lancinante
e o sol, onipresente,
halo
na cabeça da mulher escalpelada.


Cláudia Roquette-Pinto

segunda-feira, 16 de junho de 2025

workaholics


ás vezes um dos moveis
simplesmente estala

a pia pinga
a geladeira comunica seus
parcelados serviços

e no entanto os carros lá fora
se silenciam
dando caráter de grandeza
à vida inanimada que se gera aqui
dentro dos pequenos informes

enquanto o resto do mundo
dorme


Caio Carmacho

domingo, 15 de junho de 2025

Um poema de Thiago de Freitas Peixoto


A operação policial
foi um sucesso
dizia o jornal mais vendido:
12 mortos e 4 feridos.


Thiago de Freitas Peixoto

sábado, 14 de junho de 2025

Um poema de Clara de Góes


Entardece no Leblon
e os velhos se esquecem
pelos bancos nas calçadas.
Discutem os rumos da Copa
e da nação. Resolvem a vida
enquanto o tempo lança o arrastão.


Clara de Góes

sexta-feira, 13 de junho de 2025

São João da Varjota_pi


bem acima da sombra das árvores
em frente ao mercado municipal
o voo solitário das tardes de outubro
desliza pela vastidão do firmamento
pelos galhos secos espalhados pelos campos
alheios ao silêncio minguante dos cursos d'água


Adriano Lobão Aragão

quinta-feira, 12 de junho de 2025

Transplante, de Jovino Machado


se o meu coração não bastar
te dou meu riso e meu rim

se o meu coração não bastar
te dou meu fígado e o meu fim

Se o meu coração não bastar
te dou meu olho e o meu olhar

é pegar ou largar


Jovino Machado

quarta-feira, 11 de junho de 2025

A procura


O dia amanhece na minha solidão
Tento alcançar coisas que não vejo
Se estiver errado, procuro no tempo me encontrar
O tempo, as lembranças, são retratos que se apagam
Mas a  palavra ministra a nossa alma 
Guiada por um coração
Pulsante e enraizados por atitudes de quem procura ser feliz. 
Sou a boca da noite, e vou mastigar o mundo!


Mery Onírica

terça-feira, 10 de junho de 2025

Sereiando, texto inédito de Indira Kupfer

 

Céu azul, dia lindo. Fiquei animada e logo quis me expor. Rapidamente peguei uma cadeira e coloquei no jardim, sentei e fiquei ali me nutrindo de toda aquela natureza. Quis apenas descansar, mas dormi e acordei com o adeus do sol se pondo. Senti meu corpo adormecido, sede e fome. Não conseguir fazer nada, há não ser deitar na minha cama. Ao despertar na manhã seguinte tive a intenção de levantar, entretanto, senti meus pés colados um no outro. Minha pele repuxava e a sensação de falta de água salgada era imensa. Ao olhar o meu corpo percebi um forte brilho, fechei os olhos por alguns segundos, e ao abrir novamente pude perceber que eram escamas.


Indira Kupfer

segunda-feira, 9 de junho de 2025

Química cerebral


Bom dia Lexotan
Bom dia Prozac
Bom dia Diazepam
Bom dia coquetel
Bom dia Amplictil
Bom dia Fenergan
Bom dia sossega-leão
Bom dia eletrochoque
Bom dia Piportil
Bom dia Lorax
Bom dia Lithium
Bom dia Haldol

Boa noite Rodrigo


Rodrigo de Souza Leão

domingo, 8 de junho de 2025

Líquen e pedra


A pedra cala.
Sabe que no empenho
do líquen para aderir
se esconde um drama atroz.
Não está claro
se recusa essa vizinhança
ou bem a propicia
em uma imperceptível dança.


Néstor E. Rodriguez

sábado, 7 de junho de 2025

burra, um poema de Anelise Freitas


burra feito porta
ainda lembro dela
vendo as siamesas:
— são irmãs?


Anelise Freitas

sexta-feira, 6 de junho de 2025

Café, um poema de Raquel Naveira


Dê-me café,
Quero escrever.

Uma xícara desse tônico
E terei forças renovadas,
Encontrarei a palavra perdida
Que caiu como folha
Da árvore da vida.

Dê-me café,
Quero escrever.

Sou aristocrata,
Poeta,
Basta o aroma
E cantarei a luta de amor e fé
Nesta página aberta.

Dê-me café,
Quero escrever.

Estímulo para meu cérebro,
Investigarei pensamentos,
Sentimentos,
Decretos divinos
E registrarei tudo
Com dedos ágeis sobre as teclas.

Dê-me café,
Quero escrever.

Um pouco mais
Dessa infusão das Arábias
E não terei mais sono,
Revelarei segredos,
Juntarei letras em estranhas galáxias
E mergulharei num outro universo.

Dê-me café,
Quero escrever
Até morrer.


Raquel Naveira 

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Um poema de Thiago de Freitas Peixoto


Se a opinião
estiver na capa da VEJA
reveja!


Thiago de Freitas Peixoto

quarta-feira, 4 de junho de 2025

Um poema de Paulo D'Auria


re
visão
reli
gião
amem
nem precisa dizer
amém


Paulo D'Auria

terça-feira, 3 de junho de 2025

Caderno de voltas


Você sabe tanto
do azul quanto eu


Otávio Campos

segunda-feira, 2 de junho de 2025

a figueira de Auroville


a figueira
finca fundo
fura o solo
faz de tudo

a figueira
filtra a luz
feito fibra
flora-teto

a figueira
fica em foco
fala muda
infinita


Lucas Viriato

domingo, 1 de junho de 2025

Sangue Português


Fiz jus
Ao meu sangue português,
Este foi meu fado:
Deixar o passado,
Arremeter-me contra o desconhecido,
Acima da minha pequenez.

Desejei tudo:
Uma nova estrela,
Uma nova sorte,
Atribuí ao fado 
O meu cansaço
De alma forte.

Estaria morto,
Absorto em mim mesmo,
Se não tivesse partido;
Velas ao vento
Entre cruzes,
viajei em busca do meu ideal,
Bem ou  mal,
Não sei quando chegará minha hora,
Minha vez,
Mas sei que fiz jus
Ao meu sangue português.


Raquel Naveira