sábado, 31 de janeiro de 2009
As pazes de Terturiano, de Rafael Viana
Terturiano cortava cenouras
E resolveu cortar Márcia um dia
A delegacia de mulheres não gostou
E resolveram cortar Terturiano da sociedade
Jogaram-lhe numa cela, com dezesseis Terturianos
Para cinco metros quadrados
Enquanto o juiz resolvia quem iria cortar desta vez
Numa briga na penitenciária
Cortaram Terturiano com quatro iguais facas opostas
E cortaram Terturiano em nove pedaços indefectíveis
Márcia, no canal onze, assistiu a rebelião com suas quatorze cicatrizes
E acendeu seis velas de sete dias para agradecer os cinco palmos de terra rasa
Que deus no nono dia de descanso sábiamente lhe reservou
Rafael Viana
sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
Panapaná, uma poesia de Raquel Naveira
Já viram um panapaná?
É uma onda interminável de borboletas
Que pousam sobre o pântano fumegante,
Batendo as asas impacientes,
Sorvendo sais da lama,
Num desassossego
De seres que não cansam.
Já viram um panapaná?
As borboletas formam nuvens,
Miraculoso caudal
De pétalas alaranjadas,
Perdidas e ligeiras,
Em busca de flamas brilhantes.
Crisálidas,
Meninas aladas,
Espíritos viajantes,
Esvoaçam como almas saídas
De estranhas moradas.
Atravessei o panapaná:
Era um banhado,
Um brejo
Banhado de flores,
Virei fada
Do lado de lá.
Raquel Naveira
Mauro Rebello: show do Futuro Estouro
Mauro Rebello é músico, poeta e assina a coluna Futuros Estouros do jornal Plástico Bolha, onde divulga novas bandas e cantores. O show de amanhã marca o lançamento de seu primeiro CD, feito de forma independente e que demorou quatro anos para ficar pronto. Vamos todos prestigiá-lo! Você pode conhecer mais do trabalho de Mauro em seu MySpace.
SHOW MAURO REBELLO
DATA: 31/01/2009, ÀS 21H
LOCAL: CLUBE NÁUTICO MANDALA
(AV. PREFEITO DULCÍDIO CARDOSO, 777, BARRA DA TIJUCA)
ENTRADA GRATUITA
Puzzles: A Rotina Categórica de Kant
Ninguém escapa aos olhos dos outros e hoje, Kant estando vivo, seria personalidade garantida para a próxima edição da Casa dos Artistas. Que voyeur (eu não seria capaz de dar outro nome para o telespectador) não julgaria bela a experiência sublime de observar os meandros e as reticências do comportamento obsessivo daquele que tanto insistiu no conceito de sujeito transcendental, tornando-se quase que o teórico de um voyeurismo metafísico?
Dando, então, pirulito na boca de criança, palmas para o palhaço ou pão e circo para os cidadãos de Roma, contarei alguns a posterioris sobre a vida de Kant para que, a partir dessas brechas de subjetividade, possamos penetrar, com nossos olhos curiosos, em seus a prioris mais íntimos. Antes de começar a novela, uma pergunta sibila em minha mente cheia de galhofas: será que no detalhe de um comportamento está contida a chave de interpretação de um gênio? Fica a pergunta em off, como se ocupasse o espaço das charges de cartunista antes do programa, ou fosse o comercial de geladeira na hora do intervalo.
Uma curta biografia de Kant certamente seria uma caricatura de sua filosofia, fazendo ver exemplos práticos de sua atitude teórica. Nascido na Prússia, ganhou condições de ter uma educação abrangente por receber auxílio financeiro de um parente próximo. Entrou na Universidade com 16 anos e, aos 22, escreveu sua primeira obra, intitulada “A Avaliação das Forças Vivas” acerca de uma questão levantada por Leibniz. Os últimos dias de sua vida foram relatados por Wasianski, um ex-aluno que se tornou fiel companheiro na velhice, fase mais angustiante da vida de Kant. Thomas de Quincey, no livro Os últimos dias de Immanuel Kant, lançado pela Editora Forense Universitária, relata os depoimentos daqueles que permaneceram ao lado do filósofo e puderam observar suas manias e hábitos tão peculiares.
É bem verdade que a vida de Kant era um pouco irritante: acordava todo dia abrindo o olho esquerdo antes do direito e pisando com os dois pés ao mesmo tempo do lado de fora da cama porque não era muito dado a superstições. Vestia-se rapidamente para estar, pontualmente, às cinco da manhã, sentado à mesa para o desjejum. Nessa hora procurava manter-se em silêncio para capturar toda a potência contemplativa contida em sua xícara de chá. Quando uma não o saciava, contemplava mais e bebia duas, três, várias, até que seu momento estivesse pleno. Dirigia-se então ao escritório para planejar sua aula com a ajuda de um cachimbo e um pouco de fumo.
O aspecto mais interessante de sua rotina era a organização da mesa para o almoço. Kant nunca almoçava sozinho. Era um adepto rigoroso da regra de Lord Chesterfield – de que os convivas em sua mesa, incluindo ele próprio, não fossem em número inferior ao das Graças nem excedessem o das Musas. Então convidava, diariamente, uns poucos amigos para o almoço, de modo a formar um grupo de no mínimo três e no máximo nove convivas, e, por ocasião de algum festejo, de cinco a oito pessoas. Tomava aquilo que ele próprio chamava de “tônico”, um vinho da Hungria ou do Reno e, na falta deste, uma bebida inglesa chamada Bishop. O copo ficava servido, mas não bebia até todos estarem a postos e confortáveis. Para que a bebida não se evolasse, cobria-a com um papel. Após o pequeno ritual de arrumação de seu vinho, ia vestir-se para receber seus convidados em trajes de cerimônia.
A mesa era composta de um número suficiente de iguarias para atender à variedade dos gostos. Kant mostrava desprazer ao perceber espírito cerimonioso em seus convidados e tinha horror a ter que esperar o último convidado. Antes de chegarem à mesa de almoço, Kant fazia comentários sobre as condições climáticas e o assunto era desenvolvido durante a parte inicial da refeição. Questões mais graves, como eventos políticos, jamais eram introduzidas antes do almoço. Raramente dirigia a discussão para algum aspecto de sua própria filosofia. Os temas de discussão eram relativos à filosofia da ciência, da química, da meteorologia, da história natural e da política.
Além do cuidado com os temas para conversas e da variedade de comidas, o filósofo buscava convidar pessoas que formassem um grupo heterogêneo para garantir uma variedade suficiente na conversa: desde um número adequado de jovens a representantes de todos os tipos profissionais. Como verdadeiro anfitrião que era, nunca deixou de cumprir normas do bom trato social, e acabou ficando conhecido como um verdadeiro artista na composição de almoços.
Encerrado o almoço, Kant ia, sozinho, fazer seu famoso passeio de três da tarde. Passeio cumprido em hora tão precisa que, diz o mito, toda a cidade de Koningsberg acertava seus relógios quando Kant passava. Esse passeio era feito sem companhia porque queria preservar os outros de suas longas falas e também porque desejava respirar apenas pelas narinas ao caminhar. Dizia que assim preservava-se da rouquidão, de tosses e de indisposições pulmonares.
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
Receitas deliciosas no Quitanda de Minas
AB-SINTO, poema inédito de Mia Vieira
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
Clube da Leitura e a filha de Machado
Um belo poema de Paloma Espínola
Quando retiro os óculos do rosto
percebo as coisas pelo que suponho.
Meu Deus, duvido tanto do que vejo,
As impressões me dão um tênue beijo
No entanto, sei: somente ali eu pinto
a tela desse meu olhar estreito,
Teatro: Apropriação e Los Engrenajes
O convite teatral vem de nosso amigo Patrick Sampaio, que lembra que neste próximo fim de semana serão realizadas quatro apresentações a preços populares do projeto Operação Orquestra Improviso. A estréia de Bel Garcia na direção de Apropriação recebeu elogios do crítico Macksen Luiz, do JB.
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
Defesa do Amor de Cleo e Toni
Mote: Para ambos, o suicídio não foi pecado, mas castigo.
O que seria o suspiro
Sem ter por quem suspirar?
Contra a solidão conspiro
A favor de suplicar
O perdão para o casal
Que junto permaneceu
No pecado mais mortal.
Conhecemos Prometeu
Cujo fogo tem trazido
Não só a sabedoria
Para humanos mais franzinos,
Mas também a orgia
Para os mais desinibidos.
Já diante dos seus olhos
Senhores do júri, eu rogo:
Lembrem de Cleo como era,
Que maldição ser tão bela!
Concedam o seu perdão,
Que Toni já tem sofrido
De embriaguez de paixão:
Enquanto trocavam beijos
Era um colar com calor
Línguas loucas de tremor,
Seios duros como seixos
Apertados contra o peito
Muito antes de no leito
Consumarem seu amor.
Para as criaturas digo:
Não há pior castigo!
Como pena alternativa
Que eles juntos permaneçam
Como os dois eram em vida
Pois que ambos só mereçam
O veneno que os matou.
Pior pecado seria
viver como quem nunca amou.
Desafio: escrevendo um poema-cabeça...
Vale mandar textos de poesia, prosa ou qualquer outra modalidade que rompa com essas especificações para o nosso e-mail: redacao@jornalplasticobolha.com.br. Todos estão convidados a participar e o melhor texto será publicado também no jornal impresso. Então, está esperando o quê? Escolha a sua imagem e coloque a cabeça para funcionar!
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
O homem que matou Plutão, Tiago Maviero
Poema: A Corrupção dos Santos Libertinos
O doce ardor de minha estória
Juntas, parecem complementar-se
Ligam-se neste Universo sombrio
O Universo lascivo...
Nem o Pai assume os erros
Apenas apodera-se da misericórdia carnal...
O aroma fortificante deste ser
Ilumina-me pelos outros
Mas estas adoráveis e ignorantes pessoas
Nunca saberão,
Nunca tocarão.
Vamos nos calar frente ao caos
Calemo-nos frente à discórdia
Barulhemo-nos no momento certo
O momento que o pai descer
E escolher todos os seus crentes
Com aquela discurseira amarga
Discursos enfadonhos são necessários...
Gilvan Irineu Oliveira
Bolhas em Desfile — Letras está na moda!
Adriana Maciel faz show amanhã, no CCC
domingo, 25 de janeiro de 2009
o louco apaixonado pela diva
o movimento não faz muito mais.
o movimento engana, tabu maior.
o movimento é tábua de transferência,
a psique te pergunta, Freud no banheiro.
das coisas leves, malditas e fundas,
virá o gracejo do cinismo mitológico,
a idade do perdão, a idade do adeus
– a idade de dizer a idade de dizer a –
o infinito presságio, infinito refúgio,
solidão repartida em sorrisos técnicos.
Leonardo Marona
Leonardo Marona é a capa da próxima edição do Plástico Bolha, com o poema Clint Eastwood. Quem quiser pode conferir mais de seu trabalho em seu blog aqui.
sábado, 24 de janeiro de 2009
Corujão da Poesia — na livraria diVersos
Além de ser um dos pontos de distribuição do jornal Plástico Bolha na Barra, também é lá que acontece o evento — já tradicional na zona sul da cidade — Corujão da Poesia, Universo da Leitura. Nele, o microfone está aberto democraticamente para quem quiser ler suas poesias, liberar a criatividade e permitir que seus talentos reverberem. Quem quiser pode conferir o blog do Corujão da Poesia aqui. O próximo é nessa segunda, dia 26 de janeiro.
A livraria diVersos (anexa ao restaurante Balada Mix) fica na rua Érico Veríssimo 843, no Jardim Oceânico, Barra da Tijuca — RJ. Para mais informações o telefone é 2495-0040.
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
4 novas colunas no site do Plástico Bolha
Poema inédito de Aline Miranda
Posso pintar, mas as estações não são iguais.
Cada instante é navio que parte,
mesmo junto não reflete o improvável da vida.
Quero, procuro, estou.
Depois, nada. O assim, assim é.
Não sou quietude,
sou plenitude,
sou fim.
Aline Miranda e Juliana Veiga
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
Champagne, poema de Gustavo Gadelha
Ó, vida passageira!
Passa logo, qual água de cachoeira.
Tão difusa e espumante
quanto constante e cristalina:
profana e divina.
Gustavo Chataignier Gadelha é formado em Jornalismo, fez mestrado em Filosofia na PUC-Rio e, agora, cursa o doutorado, também em Filosofia, em Paris. Já publicou dois textos no Plástico Bolha, sendo este o primeiro. Mais um Clássico do Bolha para os leitores do Blog!
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Leitor de Plástico Bolha: tipo em ascensão
.
Está cada vez mais comum esbarrar com algum desses pelas grandes cidades. Você se reconhece? Já viu algum por aí? Envie sua foto com o PB para o nosso e-mail jornalplasticobolha@gmail.com.
Milésimo de Segundo, por Tatah Gouveia
Magnífica Cidade, por Maurício E. Fonseca
Por entre as serras das Gerais se faz memória
É Ouro Preto encenando as tuas glórias
E proclamando tua grandeza infinita.
É testemunha o Brasil das mil vitórias
Da merencória e antiga Vila Rica
Em voz triunfante Ouro Preto glorifica
Os grandes feitos que compõem a tua história.
Oh! Que esplendor, que magnífica cidade!
Do teu silêncio nasce uma inspiração
As tuas obras nos refletem, na verdade,
A grande arte da mais pura perfeição.
És, Ouro Preto, na sua singularidade,
A arte máxima da nossa tradição.
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
Breve: Plástico Bolha 2009 — leve literatura
- Antonio Mattoso e novo CD de Calcanhotto na coluna Oráculo
- A música em análises, notas e previsões por Santuza C. Naves, Mauro Ferreira e Raïssa Degoes
- Poemas de Ramon Mello, Letícia Simões & Ricardo Domeneck
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
Concurso "Uma Viagem para Pasárgada"
O objetivo do concurso é escrever um poema de no máximo 45 linhas respondendo à pergunta: “Se você fosse para Pasárgada, como seria a sua passagem por lá?” Para conferir o regulamento e participar acesse o site da editora aqui.
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
Uma mágica de agora (em diante)
Agora que entendi que antes doido que doído,
monto uma prática para insignificar-me.
Agora, que me influíram esses astros de que tudo é fluido,
vago vagaroso divagando meus encontros.
Hoje que sei que só sou hoje e ontens,
não quero me secar do banho de orvalho de retinas.
Energias de gente-mundo me cambalhotaram pássaro.
E agora, agora mesmo, agorinha,
sigo mais a rolar vôos de alegria.
Leandro Jardim, do livro todas as vozes cantam, Ed. 7Letras
Blog do Bolha retoma as suas atividades
O Blog do Bolha acaba de retomar suas atividades! Para você que gosta de literatura, aqui tem poesia, prosa, os textos clássicos do jornal, notícias, divulgação de eventos, efervescência cultura e muito mais .
Para divulgar eventos literários ou mandar seus textos, basta enviar seu material para nosso e-mail, jornalplasticobolha@gmail.com . Estamos esperando
A próxima edição impressa do Plástico Bolha, de número 25, já está a caminho...
Que 2009 venha com tudo!
Abraços da Equipe do Plástico Bolha