quarta-feira, 18 de março de 2009

Amargor, belo poema de Marilena Moraes

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Como o lavrador espera
O rico fruto do solo
Conformado, paciente,
Assim eu não sou, me angustio.

Como o pescador aguarda,
Silente, o peixe morder,
Respeitoso, resignado,
Assim eu não sou, me atormento.

Como a terra, confiante,
Recebe as últimas chuvas,
Penhorada, reverente
Assim eu não sou, me incomodo.

Como a noite, destemida
Se guarda para o amanhã,
Reluzente, luminosa
Assim eu não sou, me amarguro.

De que riem? Não é chiste.
Se as noites são alegres,
As manhãs são tristes.
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Marilena Moraes
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2 comentários:

Anônimo disse...

lindo!!!

beijos
Lê Katz

Anônimo disse...

Belo poema: me angustio, me inquieto, me amarguro... Assim eu também sou!