sábado, 11 de junho de 2011

A Obscena Senhora B.

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Sua vinda mudara os hábitos da casa. Por exemplo, todos passaram a recolher-se mais cedo, alegando um cansaço antes desconhecido (alegação justa, dado que duro era o trabalho nas minas). No entanto, foi apenas depois da sua chegada que eles passaram a queixar-se de sono e a ir deitar-se nem bem começada a noite.


Breve a casa respira silêncio e ela dirige-se, felina, até um dos quartos. Uma fresta de luz se insinua e expande, dando passagem ao seu vulto. Ansiosamente aguardada, ela caminha lenta até a cama onde um deles a espera. Sua mão – alva, nívea, lépida - toca aquele que, em prontidão, a espera. Sonâmbula, beija-lhe a testa e o faz sentir que sim, que valeram os esforços de um dia de trabalho árduo, apenas para aquela rápida carícia, momento do indizível. Arremate: a respiração se faz suspiro e ele sabe, redimido das penas do dia, que poderá adormecer aliviado.


Silenciosa como entrara, ela sai. Em seus quartos, a aguardam os outros seis homenzinhos.







Henrique Fagundes Carvalho




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