quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Ao caçar passarinhos

“Tudo é exílio. Tudo, exceto a poesia"
Dante Milano

um passarinho
(sistema singular)

é um voo sem palavras
- não pertence ao poema –
mantém-se estranho

daí ao caçá-lo
querer sê-lo;
e me aplumo
                     no poema

o voo que só é
                        sendo
às asas não se diz
- nós é que estamos dizendo

(colecionamos pássaros mortos)

o pássaro não se interroga
                não se publica
                não se pertence

tal qual o poema
que se pretende
voo em outras asas

mas vale a ele se ater
no que dele tenho
e a ele não posso me ter


nos resta então este jogo,
                             um voo do escrito:

entre o que me deixo
passarinho permanecido
e o que minhas asas

não sabem ao que bater

Flávio Morgado

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