segunda-feira, 21 de outubro de 2013

De lá pra cá


eu quase nada sei sobre
esses homens do deserto
que decerto também quase
nada devem saber sobre mim

portando joias de marfim
eles de turbante montam
elefantes gigantes viciados
em amendoim enquanto
eu de manhã pego atrasado
o ônibus lotado do motorista
elefante viciado em música ruim

e nada de serpente saindo da
cesta ou passear de camelo
aos sábados o máximo que
se consegue adquirir do
continente asiático por aqui
é uma esfiha do habib’s ou
um kibe mal temperado
  
e pra quem disse que no
Brasil não se fazem Oasis
como em Cholistão basta
visitar o Rio quarenta graus
e experimentar a sensação
de ser um grão de areia
em estado de sublimação

namastê não mais que mil
e uma noites por um real
e no final da programação
um jantar com Ali Babá e
seus quarenta ladrões na
sacada do Copacabana
Palace e um cálice de
Masala Chai entre as
refeições (e pros sultões
de Brunei um gole ou três
de caldo de cana caiana
antes de cair na cama)
  
eu quase nada sei sobre
esses homens do deserto
que vêm de longe a pé em
caravanas só pra ouvirem João
Gilberto e Mutantes enquanto
comem o acarajé da baiana 
com caipirinha de manga.

Camillo José



Camillo José é de Recife, PE, e colaborador do Plástico Bolha.

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