segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Igarapé


Navegara por muitas e muitas léguas
Na vã tentativa de se desvencilhar
Da ausência súbita de quem não há,
Coletando os musgos das pedras,
Perdera-se para em si se encontrar.

Navegara porque era preciso saber
Sobre o barro que compõe o homem,
Bem como as traças que lhe comem.
Era preciso olhar, ouvir e escrever:
Os corpos que fluem e que somem.

Navegara, pois, sem rumo, sem regra,
Bradando ao eco do mundo: “Não!”.
“Pode-se suportar a existência são?”
Iniciara-se nas lições das pedras,
A fim de reinventar a luz da Razão.

De lição em lição, alcançara o “Sim”.
Compreendera a integridade do Tempo:
Da dor do futuro do pretérito ao rebento.
Surpreendendo-se em cada rio sem fim;
À procura de mais e mais suplementos

Ao desaguar no caminho das canoas -
Igarapé -, percebera que se é movediço.
Lá, cercado por arbustos ressequidos,
Imprimira-lhe o rosto a água refletora,
Refazendo-se em outra margem de rio.

Gabriel Tardelli


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