Estou a toque de máquina
corro, louca, voo, suo
a fumaça sou eu
Estou a toque de nada
vivo, ando
como a comida envenenada
e o comido sou eu
Estou a toque de selva
os ferros torcidos, sacudidos
dentro de uma marmita
e a marmita sou eu
Nego, mas vivo dizendo
Sim
a tudo que me dói na cabeça
e o doido sou eu
Paro, mas estou sempre correndo
doem as pernas, os pés
e este corpo é o meu
Amanhã me encontra acordada
como a noite deixou
e o insone sou eu
Indago, mas não estou escutando
a pergunta anda solta
e ninguém explicou
que a resposta sou eu
Miriam Alves
Este poema antológico de Miriam Alves foi publicado pela primeira vez em "Cadernos Negros". n. 5, São Paulo: Quilombhoje, 1982.
sábado, 20 de julho de 2024
Fumaça, de Miriam Alves
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