terça-feira, 7 de abril de 2009

Análise: Uma autobiografia de Lucas Frizzo

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Hölderlin disse há tempos: Onde está o perigo, cresce também o que salva. Decerto, a perigosa linguagem de Botika nos salva da mesmice do politicamente correto e do risco de tornar a Literatura um espaço de panfletagem ética. Uma Autobiografia de Lucas Frizzo, livro de estréia do jovem escritor carioca, é provocador, pois possui uma radicalidade extrema, no sentido de apresentar numa linguagem despudorada o cotidiano nada ordinário de um inverossímil Lucas Frizzo. O leitor é colocado, página a página, no limiar entre o humor negro e o nojo e, em muitos casos, vê a si mesmo na delicada posição de espectador hedonista da crueldade, além de se reconhecer capaz de atrocidade e afeto, e que tudo que sucumbe faz parte do humano, e que é possível rir da condição finita que nos limita e, ao mesmo tempo, amplia.

Decidi usar minha mente que brilha e iria fazer de Malu Mader uma espécie de secretária esquizofrênica. Amputei seus braços e pernas durante o sono em que eu a mergulhei e agora ela apenas tinha cabeça e tronco. No dia seguinte comprei um cachorro labrador que eu sempre quis ter e ela acordou chorando e dava para ver que ela tentava movimentar os membros que não tinha mais, pois os cotocos que restaram estavam se mexendo. (pgs. 43s)

A arte de Botika imita uma vida que não existe sem causar ressentimento, mas que, intempestiva, resiste ao recalque que o status quo impõe e que permite que sobrevivamos uns aos outros. Sua escrita, nitidamente devedora de Guilherme Zarvos e José Agripino de Paula, tem um toque de originalidade em função de seu ritmo e vocabulário, além do desprendimento de sua narrativa, sem polidez vazia e sem teleologia definidora. Mas há uma juventude que o leva a ter certa inocência autoral, por não questionar o fato de sua escrita se colocar em um lugar de tanta inverossimilhança. Enfim, é uma interessante experiência ler o livro de Botika, que conta com capa assinada por uma de nossas colaboradoras, Raíssa Degöes.
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Um comentário:

David Atenas disse...

Esse livro do cara é uma verdadeira merda atômica. Está certo que ele quer mais é que se foda, mas até nisso tem de se ter uma certa ordem; nada funciona aqui, fica aquela sensação de papel e principalmente, tempo desperdiçado lendo isso.
O livro seguinte dele, "Búfalo", é um pouco melhor porque a loucura está mais contida, mas esse estilo dele, como um todo, é ruim e não viabiliza nada. TANTO É que Botika só ficou conhecido por ter levado umas porradas do prefeito Eduardo Paes.

Enquanto não mudar, tá condenado ao ostracismo artístico.