quinta-feira, 1 de maio de 2014

Portas...


São tantas as portas; e quis abri-las. Pensei no que havia por trás de cada uma delas. Sonhei com o que encontraria. Seriam êxtases? Ou braços abertos prontos para me acariciar? Ou bocas ecoando palavras sem dor, dizendo o ainda não pronunciado? Ou seriam alegrias sem fim? Eu não sei, nem mesmo consigo lembrar, só sei que eram tão instigantes (as portas) que não resisti e sai abrindo-as, saí girando as chaves nas diferentes fechaduras, aberturas, olhos e impulsos, sempre em buscas desconhecidas. Eu queria descobrir, saciar-me, se isso fosse possível - e é! – ás vezes é!... Algumas chaves me mostraram imagens e distrações bem interessantes (eu provei!). Condensei-me sem recusas, e, assim, germinei instantes; extraordinários momentos! Só que, acumulado certo número de dias, meses e anos, a chama diminuía, e, outra vez, eu, enlouquecido de interesse, pensava em outras portas, e logo a mochila se refazia, e minhas passadas deslizavam rumo a outras portas, tantas portas, desconhecidas portas...

As portas são infindáveis; não cessam nunca; escondem o segredo que me faz perder os medos que me empurram para os abismos, para as fantasias, para as noites em que me embriago sob as luzes estelares, nesse vento forte que sacode meus cabelos e me carrega para o beijo de alguém que amei, que amo, que já se foi para além de minha compreensão. E, ando devagar, observando as imagens da cidade nos rostos perdidos; de todas essas pessoas que velozmente passam por mim; as quais me enxergam sem me ver, as quais se vão para algum lugar acreditando nunca terem cruzado comigo, pois eu não existo em seus pensamentos coerentes, e, incoerentes vamos... Vou reformulando o percurso dos prédios inertes que se exibem para olhos que olham e que pensam sobre a cidade grande, cheia de gente no vai e vem se fim para qualquer lugar ou lugar nenhum. Mas o movimento é frenético e frenético eu preciso também estar, mas não quero estar, embora esteja, no entanto sigo em passos desconexos dentre a multidão, e compro o bilhete do metrô neste dia que se mostra lento e, até consigo um lugar para sentar, para olhar as pessoas conectadas e atentas desatentas nestes mundos virtuais, mas ainda entre um clique e outro um casal acha algum tempo para se beijar e se olham e sorriem e logo voltam aos seus aparelhos e nesse grande aparelho atingimos outra estação, e pessoas entram e saem e a norma educacional me diz que devo ceder o lugar, pois os mais velhos já viveram um tanto de anos e seus ossos estão cansados. Então a velhinha olha para mim e diz “obrigado” e vamos... Agora estou de pé, e ao meu lado a voz ao telefone de alguém que diz: “estou quase chegando...” e, eu nem sei exatamente para onde estou indo, mas o metrô não é infinito e logo eu terei que descer e andar por outros locais... E noutra parada, nossos olhos se cruzam e seguimos viagem nos inspecionando. Eu gostaria muito de saber o que se passa por sua cabeça nestes instantes enquanto seus olhos me olham, apenas sei que seria legal se trocássemos palavra quaisquer, afinal algum tipo de afinidade fluiu entre nós, mas não há falas, não há palavras a nos aproximar, apenas meus ouvidos que viajam nessa música que ouço no meu celular, enquanto você insiste em me observar e me falar com olhos que dizem algo que, talvez eu até consiga identificar. Nesse ínterim, atingimos outra estação, e você se prepara para sair sustentando os olhos grudados em mim. Então você se vai, foge, desaparece, mas permanece nos minutos seguintes percorrendo as linhas do meu pensamento, e em seguida você se desfaz em nuvens; se evapora no imenso céu; esse céu que se apresenta em variadas tonalidades; tons e redutos desconhecidos, e não detenho os instrumentos para revelar-lhe; você se foi igual nuvens passageira que nem mesmo conseguiu chuva formular, mas não, acho que gotas de você molharam o meu ser, pois fico a pensar onde você mora e com quem se relaciona, e para onde está indo, e também como seria se eu tivesse puxado assunto com você. Tais suposições transformam o nosso momento em mágico e poético, em real e imaginário, em possível e impossível... Subitamente o metrô me expulsa do seu vagão, diz que devo sair ou refazer o percurso. Indeciso, posiciono-me na plataforma e, observo pouco a pouco a movimentação eufórica. Mas não; preciso sair do mundo subterrâneo e atingir a cor do sol; sentir o cheiro do ar livre; ver o transitar dos pedestres; parar numa banca de revistas; caminhar sem direção.

Assim, minhas passadas cruzam a orla, o mar ao longe acolhe meus olhos e sinto imensa vontade de mergulhar. Sem pressa, envolvo-me na melodia das ondas, e danço nas águas do mar...

Valdon Nez

Um comentário:

Unknown disse...

Páginas deste incerto livro que escrevemos pelas passadas do viver...