quinta-feira, 28 de março de 2024
Ideología, de Jade Prata
Hay polvo en los ojos
del pueblo en la calle.
Polvo de plomo,
de sangre,
de lágrimas de madre,
de pus de herida,
de estupro
de la tierra,
de la muerte del padre.
Hay polvo en los ojos
del pueblo en la calle.
Jade Prata
quarta-feira, 27 de março de 2024
A rosa mareada
seis da tarde.
todos os homens estão
voltando para seus lares
e eu não tenho aonde ir
porque estou em busca
da rosa mareada
a flor que só nasce
nos penhascos da noite
aquela que se abre
para as tempestades
a pétala que perdeu o prumo.
Rogério Batalha
terça-feira, 26 de março de 2024
Soneto da Bradamante
escurece o clarão do dia
estribos alazão embocadura
levo ao estábulo para a montaria
e ao fim da tarde de danação e açoite
quando às vezes o castigo e outras vezes não
resta certo então o que se desvela à noite
sob as velas do quarto sou eu a Tua guia
monto arreios e sela e entôo o meu canto
a voz que o maltrata e tão doce te chama
a luz que rutila o teu olhar que me clama
por piedade patife enamorado
de medo te contorces na cama domado
e de amor e alegria ao prazer cintilante
pois que és tu um cavalo e eu a Bradamante
Larissa Lins
segunda-feira, 25 de março de 2024
Um poema de Isa Mara
Existe um homem
domingo, 24 de março de 2024
Herança
Caminho
com os sapatos de meu filho,
a passos largos
percorro as ruas
por onde ambos transitamos
sem pensar nos itinerários da pressa.
Os sapatos deixados pelo menino
são sua maneira de começar
que ele um dia foi
e que agora se dilui
na severidade
de sua nova pele de homem.
Néstor E. Rodríguez
sábado, 23 de março de 2024
PSICODÉLICA
Posso viajar o ano inteiro
Sem jamais voltar ao mesmo endereço
E mais
Dou a volta ao mundo em um segundo
Volto atrás e encontro o velho futuro
Sou assim
E quem me vê assim
Diadorim
Ontem mesmo a figura estranhou
Vou sair
Alguém vem junto?
Eu
Vivo assim
Mudo com o tempo
Tenho a sorte a meu favor
Não sou pessimista
Meu Jaguar veloz na pista
Ligado em Rock and Roll
Dizem que sou rica
Mas não tenho ainda um disco voador
Sou assim
E quem me vê assim
Tão free again
Ontem mesmo a figura se mandou
Não dormi
Agora já... ... ...
...esqueci.
São Dumont!
Já de malas prontas e o check in…
Dizem que sou rica
Pego a dica e vou bancar meu carnaval
Sou pós-modernista
Faço antropofagia sideral
No terraço em minha cobertura
Posso dar o pouso à nave futura
Um ET sentado em meu carrão
Banco a carona e a tradução
Meu pão
Vem me contar a sua história
Bagunçar minha memória e meu cartão
Vem me dizer se onde mora
Tem registro de humanóide imigração
Vamos dar um giro na galáxia
Até que a morte não desligue o coração
Numa Ciro
sexta-feira, 22 de março de 2024
insone, um poema de Paula Reis Vianna
quando eu penso muito
no que as pessoas pensam
eu não durmo
e nessa insônia eu me pego
completamente pirada
questionando deus se ele dança
questionando
se meu porteiro,
por me chamar carinhosamente
de paulinha, por me conhecer
desde menina
imagina que eu esteja usando
todas as roupas do
guarda roupa do
meu pai, ou
se por acaso sou eu
que faço
esses barulhos
à noite Paula Reis Vianna
quinta-feira, 21 de março de 2024
Falando com si mesmo
sopapos de anjo
só papos de anjo
só papo com anjo
Rodrigo de Souza Leão
quarta-feira, 20 de março de 2024
Os ruídos
os ruídos que saem de ti
não é o vizinho
que cansado sobe a escada.
os ruídos que saem de ti
não é a criança que chora.
não é sequer a britadeira
do operário mudo
que sob o sol trabalha.
os ruídos que saem de ti
são os ecos de uma vida cansada.
Rogério Batalha
terça-feira, 19 de março de 2024
Um poema de Larissa Lins
há uma mulher e ela me espreita
ela me olha através do espelho
dia após dia ela vem e ela vai embora
dia após dia ela afoga uma menininha em mim
dia após dia — like a terrible fish
segunda-feira, 18 de março de 2024
Um poema de Clara de Góes
Quando o mar sossegar
domingo, 17 de março de 2024
A rosa do tempo
a rosa do tempo
(a palha sob os frutos)
despetalou quase tudo.
como uma flor que urina
suas próprias pétalas no final da tarde
em busca das cercanias do sonhado.
assim como um elemento casual
é fruto e sêmen para o poema.
Rogério Batalha
sábado, 16 de março de 2024
Um poema de Mariana Junqueira Pedras
Não sou poeta nem escritora
Mas já que a vovó quer presente
Venho aqui como impostora
Essa história começou a muito tempo atrás
Como se diz por aí “once upon a time”
Um vovô que ainda não era avô, mas muito audaz
Enamorou-se por uma linda jovem hoje vovó, “just in time”
Papo vai, papo vem... chegou o grande dia
Estavam todos lá ouvindo a melodia
(tocar marcha nupcial)
E numa tarde ensolarada
Na maternidade lotada
A filhinha muito esperada
Chegou para animar a primarada
A vida foi vivendo
E do Rio saíram correndo
Numa terra muito distante
Mais uma vez a vovó se fez gestante
Em terras pernambucanas
Nasceu uma menininha arretada que só
Sorridente, alegre e curiosa
Logo se tornou a gloriosa
Mas o vovô não podia ser o único a reinar
E no Figueiredo em aceleramento, veio a notícia para comemorar
Esse Natal não será no Rio! Ficaremos para o nascimento do rebento que vai chegar
O mundo gira
E uma grande oportunidade apareceu!
Morar mais perto dos bivós...
BH, aqui vamos nós!
Mas cinco ainda era pouco
Vovô e vovó queriam ser avô e avó
Quanto mais netinhos, melhor!
A primeira a nascer foi a primeira a casar
Só que demorou para se concretizar!
Mas a primeira netinha nasceu
Conforme a filhinha prometeu!
Casamento aqui, casamento acolá
Mais dois filhos a cantarolá
A música que não quer calar
(tocar a marcha nupcial)
O tempo foi passando
E nada de netos chegando.
Até que a notícia apareceu.
O segundo netinho nasceu.
E aí? Como vamos ficar?
Só dois netos para alegrar?
Que nada!!! Mais uma netinha chegando
Em terras fluminenses iluminando
A família ainda não estava completa
Vovô e Vovó precisavam de mais uma neta
E a loirinha de olhos claros nasceu!
Como aconteceu lá trás,
O netinho não podia ser o único a reinar
Mais um netinho chegou para alegrar
Agora sim, podemos dizer com certeza
Somos uma família, que fortaleza
E nesse Natal sem presente
Somos o presente e estamos presente!
Que é muito mais legal
Mariana Junqueira Pedras
sexta-feira, 15 de março de 2024
Saideira, de Guilherme Ottoni
O último gole acerta a dual vontade
Com o achincalhe caro à realidade,
Ao chão de um bar que um dia lhe servira!
Dou esse gole ao fel da honestidade
Para inebriar-me da última mentira,
Mas se por vezes o ímpeto me invade
Deixo queimar a tentação em ira!
Bebo-o. Traio meu próprio livre-arbítrio.
E depois, boiando ao acaso em meu desejo,
Mofo nas lágrimas de um olho vítreo!
Sóbrio, tal apatia não se doma,
Porquanto a Liberdade, como a vejo,
Não se busca ou se pede, só se toma!
Guilherme Ottoni
quinta-feira, 14 de março de 2024
Urgências
Urge a paciência a passos lentos
Urge a guerra na Ucrânia
Urge retroalimentar o crânio
Urge libertar o pássaro
Urge assaltar o avaro
Urgentes indigentes
Urge indiferente, desta ou daquela gente
Passa ferro na minha mente
Fulgor dos unguentos
O que urge e desagua feito onda do mar ou lágrima
Urge a saudade no peito que rebenta
Esta troça não aguento
No teu útero o meu rebento
Filho da Pátria nossa que amamento
E se conclamo a dor derradeira cavalgadura
É que esparramado feito espasmo espirro o gozo na boca tua
Urge para o bem ou para o mal o ânimo
Urge não morrer nem matar o meu irmão eslâmico
Urge em nós o sexo tântrico
Urge a lâmpada
Urge o Vagalume
Urge meu peito roçando o peito teu
Urge o urso hibernando
Urge o último relâmpago
Urge minha sina
O sinal de trânsito
A construção
Urge a infância no futuro
Urge que derrubemos das prisões os muros
Antonio Marcos Abreu de Arruda
quarta-feira, 13 de março de 2024
A noite, de Rogério Batalha
sob o esporão da noite
tu ouves a voz
da tromba d'água.
porque há em ti a noite
(em plena luz do dia).
mas se o sol ainda brilha
por que não persiste
e invade esse breu?
por que
(como um corpo
exumado)
tu não expeles
essa treva?
Rogério Batalha
terça-feira, 12 de março de 2024
para um tema recorrente em bruegel
a propósito da dor | não estavam erradas as pinturas antigas | quase nada mesmo muda | o sol se põe e ninguém liga | talvez com algum tempo instaure-se na memória um pouco de bolor | como geleiras que se fundem vagarosamente ao mar | talvez permaneça ainda a experiência do medo | numa confusão mental aguda | mas quase nada mesmo muda | apesar da cabeça embolorada de águas gélidas derretidas | permanece o mesmo o mar | exceto por um minúsculo ícaro alado | a morte triunfante alegre alaúde um ícaro afogado | as minhas pernas para o ar
Larissa Lins
segunda-feira, 11 de março de 2024
Um poema de Leonardo Gandolfi
Cada um, Totó,
domingo, 10 de março de 2024
Oswald antropófago
como pode
tantas mulheres
todas tão fantásticas
caírem no conto
de um homem que
escreveu de tudo
menos um conto?!
Lucas Viriato
sábado, 9 de março de 2024
CADERNOS DE GLAUBER E GUIMARÃES ROSA: APROXIMAÇÕES, de Marília Rothier
As amostras escolhidas para o exame proposto, no arquivo do escritor Guimarães Rosa, são três cadernos, guardados no Arquivo Museu de Literatura Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa, em cópia xerox, sem que haja indicação do paradeiro dos originais. Tais cadernos, indicados pelos números 2301, 2303 e 2304, correspondem, sem dúvida, a anotações de estudo, pois alternam citações com registros de palavras e frases, cunhadas pelo autor-leitor, certamente ao longo de pesquisas sobre temas de seu interesse. Pela quantidade e extensão dos trechos citados e pela insistência no experimento com a cunhagem de expressões desautomatizadoras do corriqueiro da linguagem, entende-se que o estudioso operava um levantamento consistente de material informativo e lingüístico que pudesse fundamentar seu trabalho fabulador. Como se, diante do patrimônio herdado, o escritor precisasse reservar uma cota particular para seu uso. Reduplicava, então, em cadernos manuscritos, parcelas especialmente preciosas, garimpadas na riqueza de suas estantes.
No segundo caderno de Glauber Rocha (caderno de marca Conti, nº 830, de capa vermelha e folhas grampeadas, também pertencente ao Tempo Glauber), escolhido para esta reflexão, há referência às leituras necessárias ao desenvolvimento dos projetos. Numa espécie de anotação esporádica de diário, inserida entre argumentos e roteiros, encontra-se, no dia 2 de janeiro de 1974: “Li Ciropédia”. Trata-se da obra de Xenofonte, personagem central de “O nascimento dos deuses”, roteiro encomendado pela RAI, a empresa italiana de televisão. Na evidente velocidade da escrita não há tempo para citações de autores antigos nem modernos. A conseqüência dos estudos só se apresenta já transfigurada pela reflexão imaginativa do cineasta, decididamente avesso ao filme histórico de aparência documental, mas decidido a uma apropriação renovadora das obras do passado, interpretando-as de acordo com a conjuntura presente. Num dos primeiros esboços de roteirização das campanhas bélicas narradas em Anábasis e Ciropédia, encontra-se o destaque: “O texto de Xenofonte-Engels explica a formação do Estado Grego”.
Como atestam os dois cadernos examinados, uma enorme dispersão caracterizou a atividade de Glauber, entre 1969 e 1975. Há rascunhos referentes a projetos de filme dos mais variados assuntos: o Quixote, as guerras africanas de independência, a máfia siciliana, uma versão livre de A tempestade de Shakespeare e “O nascimento dos deuses”, além de alguns tratamentos de “América nuestra”. A maior parte dos registros desses trabalhos nunca transpôs os limites do caderno. Ficaram nas páginas manuscritas como excesso de informação, descartada como dado independente mas capaz de fertilizar as obras efetivamente desenvolvidas e levadas a público. A proliferação de fábulas roteirizáveis corresponde, no arquivo de Glauber, à feição perdulária dos cadernos de Guimarães Rosa, onde se grafam enormes levantamentos sobre as plantas do cerrado, a arquitetura colonial mineira, um trajeto de ferrovia e ainda se insinuam citações de Toynbee sobre o helenismo, notas referentes a índios no vale do Jequitinhonha e nada menos que expressões na língua Nahuatl do México. Uma simples busca nos arquivos de escritores mostra que se reúne uma enciclopédia para daí extrair um pequeno texto poético.
Tal enciclopédia babélica, contida nos cadernos, vai sendo filtrada para compor cada obra, conforme critérios precisos de escolha e justaposição. Esse procedimento preserva as ruínas de uma sabedoria popular e de uma noção comunitária de rigor estético em confronto com o desejo singularizante de autoria. O corpo manipula o código para roubar-lhe o efeito de consenso. É isso que torna inequívoca a assinatura do texto enquanto garante a permanência produtiva de sua legibilidade, na cadeia da tradição. Os estudos de Guimarães Rosa indicam exatamente o lugar de confronto entre a herança recebida e o impulso pessoal de empregá-la. É o ponto marcado pela sigla m%. Distribuídas desigualmente pelas páginas dos cadernos, as expressões marcadas pela sigla não indicam nenhuma pretensão de inventividade autônoma. Ao contrário, resultam da aproximação inusitada — em grau chocante ou sutil — entre duas ou mais unidades lingüísticas ou fragmentos de narrativa: “perciência”, “os fatos corriam como água”, “cabisduro”, “de leite e de raça”. Organizadas em sintaxe, essas expressões cunhadas na fronteira dos cânones, funcionam como impressões digitais identificadoras. No caso de Guimarães Rosa, é o eco ardilosamente recuperado da oralidade sertaneja que perturba a estabilidade da escritura. Na produção de Glauber, o conflito de fronteira, embora guarde equivalência com o caso rosiano, surge mais agressivo e irregular. Se a trilha sonora de seus filmes sempre inclui os tambores africanos, não é apenas com a sinfonia ou a dicção teatral das personagens que se dá o choque. A cacofonia da metrópole cosmopolita também se faz ouvir, num procedimento de dispersão do foco de interesse, presente desde os diálogos do roteiro: “Quixote sentado com o véu de noiva na mão. / Explodem produtos de publicidade e anúncios de televisão e de filmes americanos à música de ‘Glória, glória, aleluia’”
O movimento construtor da obra se define, nos cadernos de Guimarães Rosa, pelo gesto de concentrar o trabalho inventariante na matéria regional: as cidades velhas e os cerrados do interior. As listas da flora, fauna, topografia, arquitetura e urbanismo do sertão é que se tornam o lugar fértil de inserção dos signos da diferença cosmopolita, anteriormente arquivados em outros suportes. O sinal m%, indicador da combinatória dos componentes das listas, como que vivifica, põe em movimento os registros até então estáticos. Pode-se ensaiar uma analogia entre o papel atribuído a Pedro Orósio, protagonista de “O recado do morro”, e o sinal m% usado nos manuscritos. Pedro, um simples enxadeiro geralista, não pesquisa a natureza nem tem poderes mágicos de ouvir a voz da pedra, mas testemunha todas as vezes que se transmite algum fragmento de saber; assim, no desfecho da estória, é ele que performa a canção — sabedoria condensada — que se produz. Também o sinal m%, germe da apropriação autoral do legado coletivo, identifica-se com a potência performática do conhecimento viabilizado pela arte. Trata-se de um tipo de engendramento estético que parte de uma memória local, de ancestralidade familiar, para desautomatizá-la em confronto com o externo, o exótico, o vertiginoso da distância cultural. Já, nos cadernos de Glauber Rocha, o procedimento toma direção contrária: os rascunhos de roteiro compõem-se de inventários virtuais das bibliotecas, tradições e notícias de oriente a ocidente — Xenofonte, ritos africanos, Shakespeare, conflitos mafiosos, Cervantes, guerras anti-coloniais. Essa variedade desconcertante é alinhavada, por sua vez, por uma espécie de núcleo de referências domésticas brasileiras, lugar da performance atualizadora do acervo mundial apropriado. Observando o funcionamento desses processos equivalentes mas inversos, percebe-se que, enquanto Rosa, enfrenta a serialidade padronizada, que reverte no lucro da significação óbvia e imediata, confrontando-a com a repetição vagarosa mas personalizada do artesanato, Glauber desencadeia com mais violência a mesma operação crítica, sem recorrer ao ritmo lento do trabalho manual. Sua estratégia consiste em romper a coerência da história antiga com o raciocínio desconstrutor do presente; daí o emprego de Marx e Engels para apropriar-se da lógica imperialista da Ciropédia de Xenofonte ou de A tempestade de Shakespeare. Além disso, o registro dos argumentos, roteiros e reflexões teórico-políticas dividem as páginas dos cadernos com as contas, os desabafos e os nomes das amadas. Essa convivência insólita é que inviabiliza o resultado eficiente do produto da indústria cinematográfica. A presença inescapável do corpo, que consome, sofre e deseja, deixa sua impressão identificadora na letra gravada — letra que, por sua vez, também resulta na sabedoria poética da canção.
Marília Rothier Cardoso
sexta-feira, 8 de março de 2024
O consolo
Caminhando na noite sem fim,
sem direção, sem vida, sem futuro,
com a solidão como companheira,
que vive na dor do meu peito.
A luz está perdendo intensidade,
me deixando com apenas um consolo
esperando o sofrimento passar
quando a escuridão eterna chegar.
Roberto Aguilar
quinta-feira, 7 de março de 2024
quarta-feira, 6 de março de 2024
YOU CAN, um poema inédito de Eleazar Carrias
Vai, digita alguma coisa.
Mamãe mamãe não chore.
Isso não é seu. Digita de novo.
Vai, você consegue. Não espera
o som a voz o ritmo. Escreve, porra.
Digitar não é escrever.
Digita, que a escrita se faz.
Não pensa não elabora não faz que.
Taca os dedos no teclado
Vai ficar obsoleto, os teclados
vão desaparecer.
Mas tudo vai desaparecer, idiota.
Taca os dedos no alfabeto, vai.
Ihtguurg judia gfgb nok fhieg yung
Viu? Quase. Tenta de novo.
Fhitf ji9eg girls vsuwg fato
urrd saedli ftoxck ddoitjkaf wxov
Ooooooa gpiiiiberrscb xxaaaaaas
Ffegj ooogevj 4u7 reckhggg
sass eewewrll fiiiix
Para para. Deixa eu ver.
Que merda. Apaga.
Cê não nasceu pra isso.
Eleazar Carrias
terça-feira, 5 de março de 2024
Poema inédito de Fred Coelho
Rio d'Janira
De Gaza e Guiné
Da Gávea a Maré
Leme solto de Macalé
Do Cruzeiro do
Comando
Miami entre Milícias
Maraca são janu Bariri
Polícia feitora
A lei de murici
As Caravanas de Chico
Os playba os lekes e o
Peruquinha
Trem, bala e louvor
Cosmos e Damião
Amor que engole a ira
Eis aí
Rio d'Janira
Poema (e foto) de Fred Coelho
segunda-feira, 4 de março de 2024
Momento
sábado, 2 de março de 2024
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024
Dominação Europeia
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024
parágrafo 5º art.II
proibiria a palavra dardo
e daria fim a precisão
proibiria a palavra magma
depois a palavra chão
proibiria então o sintagma
depois a palavra
de livre apenas o som
(logo entenderíamos os bichos
decodificando cada ruído)
e se estivesse me sentindo má
decretaria ao acordar
o fim
do próprio sentido Paula Reis Vianna
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024
Tormento
segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024
gênese II
sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024
cavalo marinho
meus passos pela terra exibem certeza
quando olham para os seus
vagarosos
de encontro contra a correnteza
sei que trocamos os papéis
e seu corpo de cavalo te implora a languidez da água
enquanto o meu
de serena sereia
suplica a espessa dura beleza
que sustenta uma pegada na areia
Paula Reis Vianna
segunda-feira, 29 de janeiro de 2024
segunda-feira, 22 de janeiro de 2024
war, poema de Paula Reis Vianna
antiga
verdadeiro conluio para que fôssemos dormir
e que portanto ninguém teria o poder
Paula Reis Vianna
domingo, 21 de janeiro de 2024
segunda-feira, 15 de janeiro de 2024
Arquivo
segunda-feira, 8 de janeiro de 2024
quarta-feira, 3 de janeiro de 2024
terça-feira, 2 de janeiro de 2024
Um poema de Paula Reis Vianna
dorme-se um, acorda-se um
pouco diferente.
nada grave: um dia mais tarde.
pra sempre será
assim.
até não ser mais,
e então será bom
— morrer
de tanto mudar. Paula Reis Vianna
segunda-feira, 1 de janeiro de 2024
Ressaqueando
Ressaqueando
ou ressacando,
sacando a lição Ressaca, saca?
Seu passar saqueado pelo saque dessa noitada.
Dessa, mais uma. Desce mais uma
e vai ressaqueando no dia seguinte o giro da cuca
que por pouco luta pra se manter
na labuta e ganhar de novo
a linha dessa ressaca tão justa.
sábado, 30 de dezembro de 2023
Um poema de André Dahmer
1.
não sentir medo
nem andar com pessoas
que sentem medo
2.
não subir a serra
para respirar ar puro
lutar por ar puro
na cidade em que você mora
3.
não invejar
o voo dos pássaros
o sono das plantas
a luz do sol
brilhar no escuro
do apartamento André Dahmer
quinta-feira, 28 de dezembro de 2023
quarta-feira, 27 de dezembro de 2023
ernaux
quando acabo a leitura
me demoro na foto da capa
ela está
bonita
com o braço apoiado
de modo a ser cortado
pela moldura
ela está bonita e eu
abro
o livro ao meio
tentando realçar o efeito
inclino a capa e agora
a sombra da brochura
corta metade do braço fora
o retrato dessa perspectiva o afina
à semelhança da atrofia
típica de um braço mórbido
e me agrada poder ser bonita assim
de batom vestido relógio
mas gosto mais ainda pois penso que ela me ensina
a trabalhar na escrita um palco
retirar as memórias
de seus cubículos
fazer das lembranças
um espetáculo
Paula Reis Vianna
terça-feira, 26 de dezembro de 2023
SONETO EMPOEIRADO
Nos museus, por todo o mundo afora,
nas sessões de antiguidades há sempre
a série sem fim (caixa de pandora)
de cumbucas ancestrais. Ele cumpre
a tradição, criança não demora:
nada de interessante nessas coisas,
naquelas cumbucas… Já nessa hora
eu só queria ver os tais sarcófagos.
Mas ao chegar em casa, hoje, jantei
com uma cumbuca de porcelana.
E, enfim, depois de uma eternidade, pensei:
Que coisas fabulosas são as cumbucas
ancestrais. Eu, você, os próprios neandertais
Comemos nas mesmas cumbucas, dos mesmos materiais. Vicente Valle
segunda-feira, 25 de dezembro de 2023
Um poema de Alice Sant' Anna
quando faltou luz
domingo, 24 de dezembro de 2023
ESCOMBRICÍDIO:
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I ≈ Mcપmხa, tá?
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Sandro Silva
sábado, 23 de dezembro de 2023
sexta-feira, 22 de dezembro de 2023
Ícaro
ali
avenida primeiro de março
estropiado entre buzinas
e gritos de todas as gentes
que largo mão do sol
para recomeçar a Terra
Ismar Tirelli Neto
quinta-feira, 21 de dezembro de 2023
Passado e presente
Já fui garoto das chuvas.
Fui, por longo tempo,
menino nas tempestades.
Um ser dia cinzento.
Hoje, sou homem do sol.
Thássio Ferreira
quarta-feira, 20 de dezembro de 2023
Gazel para um amor virtual de uma oficina poética, uma ousadia de Vicente Valle
Querida, Zilka, já não sei se vale,
ao teu talento, nada equivale.
Me apaixonei pelos teus lindos versos.
Quero vestir o teu mui belo xale.
Quero declamar a ti todo o meu
amor, mas sem que nada encavale.
Que você venha se casar comigo,
no contrato sagrado assinale.
E se um dia sentires enorme raiva,
me mate, esvazie, e logo me empale.
E se mesmo no Fim do Mundo Todo,
você ainda quiser que eu pedale,
é só sorrir pra mim, e eu pensarei:
“É a mulher da minha vida. Dá-lhe!”
Sou eu, o homem mais feliz do planeta —
Vicente Ruiz de Gamboa do Valle!
terça-feira, 19 de dezembro de 2023
GAZEL ENJOADINHO
Meu caro Hafiz, achei tão belos
os teus gazais — gazéis? gazelos? —
achados numa antologia
que resolvi também fazê-los,
quer dizer, pelo menos um.
Porém a musa aos meus apelos
se fez de muda, e em pouco tempo
fiquei arrancando os cabelos.
Mais tarde, respirei bem fundo,
consultei mais alguns modelos
e pensei, após devorar
um pacote de caramelos:
“Vou conseguir, ou não me chamo
Zilka do Amaral Vasconcelos!”