quarta-feira, 31 de julho de 2024

plac, poema de Jorge Salomão

POR TODO LADO DESTRUIÇÃO
NO MEIO DISSO TEUS OLHOS
IMENSOS SOFRIDOS SEM DIREÇÃO
ENQUANTO A ALMA QUEIMA
ESTALA PLAC E PEDE MAIS... 

Jorge Salomão 

segunda-feira, 29 de julho de 2024

fábrica do poema

na linha de montagem
recebo um corte
e passo adiante

Gabriel Silveira

domingo, 28 de julho de 2024

para Emily Dickinson


quando o mundo todo é uma ruína
e meu corpo quer apenas descanso 
penso nas palavras escritas
por uma mulher que deitou-se ao sol
em paz por olhar o que é belo
sem temer ser olhada de volta 

Marcella Mahara 

sábado, 27 de julho de 2024

Eu queria fazer um poema pra você


Numa ocasião em que eu estava
(como das outras vezes) prestes
a me naufragar no abismo do delírio,
houve um sorriso de dentes postiços.

Mas eu já não queria mais cair
na cilada do amor fugaz e preferia
estar quieto e fugir para longe do
alcance de uma outra decepção.

Então eu me internei num hospício
e amarrei as minhas mãos ao pé
de uma árvore frutífera de onde
eu poderia escavar o chão de barro.

Ao fim do terceiro dia de psicopatia
veio a diretora dizer que eu deveria
partir para um lugar que não sabia
e me deram um endereço e o contato.

Era um lugar acolhedor e distante
coberto de grama e cerca de arame
mas quando fui atravessar a ponte
um cão vampiro me atacou de noite.

Sobrevivi como alguém que se esqueceu
da longa noite passada e caminha como
se o dia estivesse amanhecendo de novo,
apesar do rastro de sangue e a boca seca.

Havia uma casa deserta e eu pensei em
largar tudo o que eu não nunca tive e
vir morar aqui no meio dos bichos que
comunicam-se através de sinais e apitos.

Lembro de uma escada pintada de verde
e uma mulher bonita que veio me atender
com as mãos estendidas e um sorriso
encorajador para que eu dissesse tudo.

Não havia o que contar além do fato
de eu ter andado distante e perdido
e que, nesse período, eu havia criado
enredos irreais para me manter vivo.

Tudo era então uma simples questão
de fechar os olhos para os pássaros e viver
tranquilo como os homens banidos de si
e que se refugiam no labirinto do amor.

Ai que delícia que é poder acordar e dizer
que estou vivo, mesmo não tendo nada
ao redor a não ser o microfone em que
digo isso e acompanhar o seu eco no abismo.


Milton Rezende

sexta-feira, 26 de julho de 2024

O intruso


caras e bocas e
ouvidos atentos e brincos
que pendem pros ombros desnudos
e braços tão finos com mãos
que se apertam e olhos
que veem seus amigos de infância
e os lábios que riem dizem sobrenomes
narizes pra cima que testam sua classe
e rostos que viram quando você passa
no meio dos passos
do salão em festa


Gabriel Silveira

quinta-feira, 25 de julho de 2024

Alforje, de Otávio Campos


Tenho trazido cabelos à altura
dos ombros porque acredito 
na força das coisas mortas

quarta-feira, 24 de julho de 2024

Um poema de Thássio Ferreira

como
através de uma brasa
—a própria língua —
aprender a sangrar
                                   uma voz

que em sua dança de relance
alcance dizer em pânico
palavra que valha a pena

como
pólen de pensamento
gozo desajustado
lampejo doce
                        delirância

Thássio Ferreira

terça-feira, 23 de julho de 2024

Epígrafe

sempre achei que os livros
fossem feitos de terra e
as palavras
                            sementes


João Lima

domingo, 21 de julho de 2024

Com carinho, de Beatriz Arantes

Estou escrevendo na cozinha. O ambiente mais estreito da minha casa e onde todo dia de manhã tento consolidar uma rotina. O ambiente que menos mudou nos meus poucos vinte anos de idade. E talvez menos ainda nos vinte anos anteriores que minha mãe viveu aqui. Queria ter uma máquina de escrever, que nem ela já teve. Um costume antiquado, vintage, retrô, seja lá qual for o termo adequado. Mas imagino que seja mais propício a esse cômodo e a essa iluminação calorosa do que meu computador desproporcional, de coloração cinza metálica, que se assemelha mais a uma espaçonave do que a um objeto cotidiano. Se bem que hoje em dia tudo é cinza mesmo, tal qual um rio poluído. E, assim mesmo, somente serve para refletir nossa imagem.

Estou escrevendo agora porque sonhei. Sonhei com um escritor dizendo-me o que escrever. Devo ser a maior piada do feminismo contemporâneo: uma jovem artista, sempre independente em todas suas formas criativas, resolve seguir estritamente o que um homem, fiel de uma única arte, tem a lhe dizer sobre como criar. Mas o conselho era bom, melhor do que os da vida real. De qualquer forma, não há dissonância cognitiva alguma: ainda que personificado na figura de um homem, o conteúdo provém inteiramente do meu eu onírico. Inconscientemente eu, mas, ainda sim, eu mesma.

Escreva com carinho. Foi esse o conselho revolucionário que ouvi da minha mente sonhadora esta noite. Simples, mas, sobretudo, efetivo. Acordei com um impulso acalentador sem igual, uma ternura materna digna de criador com sua criação. Não havia nada sobre o que escrever, senão sobre isto. A escrita como conteúdo e o carinho como forma.

Mas ainda que aquele escritor de pouca coisa sabia, seu personagem onírico me provocou um desafio e tanto. Apesar da minha determinação, me deparei com um impasse prático: como se escreve com carinho? Tudo que eu tenho produzido até então — pouca coisa, de fato, mas isto não vem ao caso — jorra a partir de uma nascente de sofrimento inesgotável, formando um rio de águas turvas de alívio a partir do momento em que é posto no papel. Como posso atrelar esta dor a algo tão tenro quanto o carinho? Seria puro mau gosto da minha parte me colocar nesta posição quando genuinamente esta não me pertence.

Mas será que de fato não me pertence? Ou será que apenas não permito pertencer a mim?  Deve haver alguma correnteza de carinho no meio desta tromba d'água que chamo de sofrimento. Afinal, se tal mensagem do escritor em mim despertou tamanha ternura, talvez eu seja capaz de canalizar esse sentimento em palavras. Criar uma nova nascente, mais esperançosa e vivaz do que a anterior.

E ao redor de toda nova nascente, ganha-se vida. Vida como nunca antes vista. A mata ciliar se firma naquele solo fértil e produtivo; populações ribeirinhas se sustentam da fluida diversidade jorrada; e uma fauna perigosamente bela perambula pelas árvores recém esverdeadas. É um futuro tão próspero que me cego diante da sua visão. Digna dos meus melhores sonhos, fruto da minha melhor versão.

Esboço um sorriso perante este fluxo de imagens intrometidas, metidas a tomarem conta do meu pretenso curso. Escreva com carinho, claro, escreverei, meu bem. É o que me resta para desaguar no plácido oceano de equilíbrio que me foi predestinado.

Entretanto, o meu sorriso logo se desmancha e meu lábio apreensivo prende-se sobre meus dentes. A trajetória de um rio é sempre sinuosa, permeada por declives e vales. Pedras diversas surgirão pelo meu percurso, quiçá montanhas inteiras. Estarei disposta a enfrentar tudo com carinho? Minha respiração se encurta e minhas mãos desesperadas agarram-se à frágil mesa enquanto tonteio-me diante o despedaçar daquilo que considerava ser meu coração. Já consigo me ver afogando em um redemoinho de sofrimento, apegando-me às escassas correntes de carinho que uma vez julguei potentes o suficiente para me sustentarem. Assumo a desilusão completa, sou apenas um ser terrestre buscando me aventurar por essas palavras inquietas.

Aqui jaz lamentosa minha tentativa desesperada de fazer jorrar carinho, encharcando com minhas lágrimas caridosas estas páginas embranquecidas por uma luz artificial e este cinza metálico computacional porcamente reluzente.  Talvez as nascentes só…surjam, tento me convencer em meio aos soluços. Não se pode forçar um solo a jorrar aquilo que ele não queira. Mesmo que o homem dos seus sonhos lhe diga o contrário.

Enxugo relutante meu choro afluente e retomo inebriada a minha rotina de dormir, como sempre faço após uma longa sessão de escrita. Ou após uma longa dose de vida. Sim, são cinco da tarde ainda, mas é tudo a que posso recorrer. Recolhendo-me sobre as cobertas, acesso os meus mais vívidos sonhos, prestes a descobrir uma nascente de carinho genuíno por mim mesma. Enfim, guardo a esperança de, em um solo fértil, uma nova safra de mim florescer.

Beatriz Arantes

sábado, 20 de julho de 2024

Fumaça, de Miriam Alves

Estou a toque de máquina
corro, louca, voo, suo
a fumaça sou eu

Estou a toque de nada
vivo, ando
como a comida envenenada
e o comido sou eu

Estou a toque de selva
os ferros torcidos, sacudidos
dentro de uma marmita
e a marmita sou eu

Nego, mas vivo dizendo
Sim
a tudo que me dói na cabeça
e o doido sou eu

Paro, mas estou sempre correndo
doem as pernas, os pés
e este corpo é o meu

Amanhã me encontra acordada
como a noite deixou
e o insone sou eu

Indago, mas não estou escutando
a pergunta anda solta
e ninguém explicou
que a resposta sou eu

Miriam Alves


Este poema antológico de Miriam Alves foi publicado pela primeira vez em "Cadernos Negros". n. 5,  São Paulo: Quilombhoje, 1982.


sexta-feira, 19 de julho de 2024

Ao fantástico sr. H., repórter de manchetes

Precisas da desgraça por perícia,
Do sensacionalismo da Baixada,
Do bicheiro, do jogo, da milícia,
E da estação Central superlotada
Na hora em que a praia está uma delícia!

E quando a circunstância te é propícia,
Exaltas os bandidos e a empregada,
Ou a mão da lei na forma da polícia;
Ao passo que te serve a dor roubada
Como convém ao mote da notícia!

Enalteces na glória ou na miséria
Frivolidades típicas de um lorde,
Ou o espetáculo em guerra na Libéria;
E não careces que ninguém concorde,
Desde que venda e a capa seja séria!

Que sangre onde haja sangue por pilhéria
Pois trazes se em África ou num Fiorde
Ipso facto, a verdade deletéria!
E havendo sangue então que se transborde,
Meu amigo, consegues a matéria!

Guilherme Ottoni

quinta-feira, 18 de julho de 2024

Um poema de Larissa Lins


perdão se ignoro o sol se sigo em pranto
sigo réstias para a luz eu cega sigo o canto


Larissa Lins

quarta-feira, 17 de julho de 2024

Cafés torrados, de Eduardo Moraes

Um dia, tomando um café na rua sozinho e meio entediado, fiquei prestando atenção na conversa de duas mulheres. Todo entediado é meio fofoqueiro. O papo não era nada interessante: Thomas estava com problemas na escola e Julinha não queria mais ir ao balé. Do outro lado fiquei sabendo que Mauro tinha rompido o ligamento cruzado e que estava querendo mudar de emprego. Até que a mãe de Thomas e Júlia, depois de tomar um gole do café e fazer uma cara feia, falou uma frase que me instigou:

”Menina… Não me acostumo com esses cafés especiais. Acho até ruim! Sei que aquele que tomo em casa é super torrado e que nem café puro é, mas já me acostumei com aquele gostinho, é até familiar.”

As mudanças, ainda que para melhor, costumam ter um gosto estranho e ser incômodas e difíceis de digerir.

Ela sentiu saudade do café ruim. A nostalgia bateu. Lembrou só dos seus pontos positivos. Será que só porque era familiar que era bom? E as novidades trazidas pelo especial criaram resistência e repulsa. Até as qualidades viram defeitos.

É caindo nessa que voltamos à estaca zero ou descemos um degrau. Muitas vezes escolhemos substituir o café ruim por outro ruim ou pior. Ou vivemos o estranho vazio que se auto completa ao sentir a ausência do negativo que se foi. Que não sabemos se é cômodo ou incômodo. E nos fechamos. Degradamos. Encolhemos. Criamos casca. E o especial vai perdendo espaço, se afastando e se deixando afastar. E vamos caindo nas peças que nossas cabeças nos pregam fechando os olhos para os bons ventos que podem estar por vir.

Mudar dói, dá frio na barriga e te faz questionar muitas coisas, mas é bom demais completar um vazio deixado por algo ruim com algo que realmente faz sentido, que foi trabalhado e pensado para o seu próprio bem. Certamente a saudade do super torrado vai bater quando você menos esperar, o estranhamento pelo especial também, mas um dia você acorda e, sem perceber, seu paladar mudou e seu sarrafo foi levantado.

Que aprendamos a evitar os cafés super torrados, e, é claro, a viver e sentir muitos incômodos (dos bons), ainda que saibamos que não será fácil se acostumar com eles.

Eduardo Moraes

terça-feira, 16 de julho de 2024

Um poema de Beatriz Bastos


Desde que nasci
te escrevo
estas palavras
seus olhos, algo seu, algo meu,
que ao escrever
te prendo, te liberto,
para sempre
na minha pele
como em palavras
nuas.


Beatriz Bastos

segunda-feira, 15 de julho de 2024

Flor da idade


Homem que chora vira
florzinha — gritou o pai.
Joaquim abaixou a cabeça,
sentiu brotar dentro dele
uma flor de delicadeza.
Acabou chorando


Daniel Viana

domingo, 14 de julho de 2024

Poema escrito na orelha de um livro


Gosto da palavra — regozijo.
Tem o sabor de uma manhã
primaveril.
Nos limites da folha de papel
o poeta é uma criança
preocupada com o tempo
alvoroçada com a noite.

E o poema um copo
de leite 
tomando com a mesma ânsia 
de um menino que tem
o dia inteiro
até o anoitecer. 


João Lima

sábado, 13 de julho de 2024

Pura manha


Essa manha não irá triunfar!
Da sua esperteza
já sou amigo de longa data.
Tente,
mas não descanse.
Quem sabe um dia
Você toma o meu lugar.


Márcio Kozlowski

sexta-feira, 12 de julho de 2024

1ª edição do Prêmio Caminhos de Literatura!





Iniciativa de Henrique Rodrigues, escritor e gestor cultural, o Caminhos de Literatura terá sua primeira edição este ano. O prêmio busca dar oportunidades para autores iniciantes na cena literária brasileira e, nesta primeira edição, terá como foco romances inéditos. A obra vencedora será publicada pela editora Dublinense, com adiantamento de direitos autorais de R$ 5 mil, além de uma tutoria sobre mercado editorial com o curador e gestor do projeto e participação em eventos literários. O edital está no site: www.premiocaminhos.com.br.

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Programa Noturno


No silêncio sepulcral desta noite
abro a janela
e recebo a visita do demônio.
Juntos travamos um pequeno diálogo
acerca da destruição do mundo.

Depois percorremos os cemitérios
e os ninhos dos pássaros agourentos,
respiramos o hálito da morte
e compactuamos da miséria dos homens.

A noite era fria e indiferente
aos nossos propósitos de celebração.
Com dedos trêmulos cavamos o altar
de nosso macabro ritual.

Antes, porém do sacrifício final
fomos resgatar a memória dos corpos
e garantir a permanência dos zumbis
sobre a face andrajosa do planeta.

Abrimos um caixão e uma brisa vaporosa,
que era ao mesmo tempo fúnebre e sensual,
despertou nossos instintos de espécie
e pouco depois e para sempre estava
consumado o ato lascivo e sagrado.

Chegamos depois ao altar fatídico,
e sob asquerosos protestos de ódio
à vida social e fútil dos vivos,
pegamos os punhais do sacrifício
e nos entregamos ao suplício eterno.


Milton Rezende

quarta-feira, 10 de julho de 2024

poeta


se você fosse caro
em vez de ser tão raro
eu deixaria de ser poeta tanto assim
pra ser puta no bairro bonfim
e com o suor sagrado do meu trabalho
compraria você todo pra mim


Ana Elisa Ribeiro

terça-feira, 9 de julho de 2024

da terra sob os peitos e outros castigos pelos feitos de eva


milena esconda essas vergonhas
limpe dos olhos dos pios a presença na casa

                 escórias
                 o sujo

paredes molhadas
de cheiro vivo

guarde no armário a presença na casa milena
guarde nas gavetas
debaixo das roupas proibidas
que roçam na umidade

sobras à beira do canal
              dobras
na ponta dos dedos

               é suja a presença na casa

a terra sob os peitos qual serpente
e outros castigos pelos feitos de eva

maçã vermelho-sangue salivando gêneses


Milena Martins Moura

segunda-feira, 8 de julho de 2024

Walter Benjamin


Beija Walter
Beija o beija mim

Beija o cinema
Como arte Superior

Mas não aguento
O Eisenstein

E a falta de som
No vácuo d'eu


Rodrigo de Souza Leão

domingo, 7 de julho de 2024

Bagatela - IV, de Paulo Henriques Britto


Vida sempre rascunho, folha sem pauta,
pasto de lacunas e rasuras,
risco sobre risco, pré-
-texto de nada.


Paulo Henriques Britto

sábado, 6 de julho de 2024

Janus

 
a garça encorujou-se no flamboyant
e por trás do vermelho
o pescoço em S distendia
brancos ataques às rolinhas
que ao seu lado pousavam
pensando na paz...
encorujar-se
nem sempre um verbo triste.


Lasana Lukata

sexta-feira, 5 de julho de 2024

Esquinas

 
há um céu que se divide
entre azul e cinza e nuvem

há carneirinhos em seus cabelos
e lésbicas rodando bolsinha

na manhã de minha sopa quente
há barbitúricos e cocaína

no clitóris da paisagem
há uma engrenagem nuance

entre azul e cinza e nuvem
há um céu que se divide


Rodrigo de Souza Leão

quinta-feira, 4 de julho de 2024

Sobre o caiçara, de Carlos Andreas

 
O mar entre dois versos

se alarga e transborda em versos
os versos a soluçar se exilam;

o caiçara sem versos para viver
abandona a estrofe

e tudo vira mar


Carlos Andreas

quarta-feira, 3 de julho de 2024

Anúncio, de Luiza Mussnich

 
Procura-se
uma relação que dure
mais de quinze hematomas
seis viagens a Itacaré
incontáveis gozos
três copos quebrados
telefone para contato
3672-4832
(dor aguda)


Luiza Mussnich

terça-feira, 2 de julho de 2024

O filtro


entardecia
quando você displicentemente bagunçou os cabelos
no meio da fala apressada
com um sorriso brincando
nos cantos dos lábios.
no fundo dos seus olhos luzia
uma cor inominável.
castanho talvez, mas com a suavidade do rosa
desabrochando no calor rubro
em faísca.
de repente, a mesa parecia um tom mais viva
o chão estendia-se em cor de sonho
e a brisa que soprava com calma
coloria o ar
que nos envolvia.


Gabriel Silveira


segunda-feira, 1 de julho de 2024

Julho, um poema de Alexandre Bruno Tinelli

Hoje a noite é tênue
e diante do golfo iluminado do teu corpo
o mar se reencontra com o ar.
Você dorme. E meu coração sente
uma necessidade rouca
de tecer novas relações com a luz.
Súbito se anulam os impulsos
que fazem da vida um ritmo constante
de erros. Não é hora de despedidas.
Tampouco se alargam as margens
do que era plano e era sonho.
Um corcel negro cavalga meu peito
rumo ao incêndio onde agora me deito.

Alexandre Bruno Tinelli