sábado, 5 de março de 2011

Janeiro

.
Estilhaços de nostalgia
caem sobre seu peito.
Nostalgia de uma pátria
que nem o viu nascer
e a sutil esperança que o faz padecer.
Bondosos urinam compaixão
em cima dos seus caídos ombros.
Nada o consola,
Ensaia um inútil protesto.
Leu, na mão de Deus,
o última manifesto.
O décimo-primeiro mandamento:
"todo homem deve esconder
o próprio sofrimento".

Esboça uma tímida risada,
insana, desusada.
Manhã tórrida, abafada
espelho do dia anterior.
Ele se olha,
exata cópia de outras tantas vidas,
sem fundamentos, cáusticas, consumidas.

O peso da eternidade
enverga as suas costas.
Todas as suas interrogações
continuam sem respostas.
Ele faz um grande esforço
para reencontrar a lucidez exaurida
arrancada, sofrida.
Calor inumano.
Banho de suor em todo o corpo
ácidos sais afloram
dos obturados poros.
Lamentos.
Agudas vozes o encantam,
lhe oferecem repouso em sombria caverna.
Recusa.
Estende o braço para que seja alcançado
por outra mão, pia.
Nada encontra.
A cabeça vazia
diante de si o abismo,
a anarquia.

E. Bezerra de Melo

2 comentários:

sindro disse...

Oi

Adorei o blog, passe lá no meu blog de textos, obrigado, te espero!

ademir disse...

Adorei o estilo da poesia Janeiro.Gostaria de saber se tem mais poesias postadas desse escritor e como posso entrar em contato.