Acordei três da manhã com a sensação
esquisita de ter perdido alguma coisa.
Mas, acabara de acordar...
Seria assim tão distraída de deixar,
naquele lugar que havia deixado,
A fotografia do meu amado?
Seria eu um filme de Godard?
Fechei os olhos. Apertei as mãos. Concentrei-me
Com todo esforço enchi os pulmões de ar...
Mergulhei.
Procurei naquele lago escuro que aos poucos se definia.
A encruzilhada da esquina onde a teria deixado.
Usei o método tradicional associei busca a uma música,
uma paisagem, um pintor famoso,
Ou um cheiro de padaria gostoso.
Entusiasmei-me com a procura.
Tornei-me minuciosa. Segui rastros, pegadas, sítios
escavados...
Usei carbono 14 manual de caverna.
E qualquer indício, tornou-se ossos do ofício.
Entre escombros nada encontrei.
Nem impressões digitais.
Mas não desisti.
Avancei outra direção.
Desaguei na geleira, perto da cabeceira,
E entre a escrita, as camadas,
Ah, comecei a recordar.
Mas mais que repente o fôlego desandou a faltar.
Optei por uma pausa.
Um cigarro.
Fumei de baforada
Sem soltar fumaça...
Vieram nuvens e pássaros à cabeça.
Tristeza.
O abatimento encheu de lágrimas o sofrimento.
De nada adiantou.
A imagem que acariciei com as mãos
não consegui mais encontrar.
Afinal aceitei o mistério.
O amor na imagem do amado
Havia atravessado o espelho
Retornado ao passado.
Agora o Paraíso haverá de aguardar
outro encontro de amor.
Um novo filme de Godard.
Solange Padilha
2 comentários:
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São tão boas suas poesias nos poemas, como são boas suas poesias pela vida.
beijos Carolina
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