quarta-feira, 3 de maio de 2017

Monique de corpo e poesia




Quem a vê assim andando, nunca diria “é poeta! ”. Mal sabem que ali eles não estão vendo mulher, nem roupa nem nada. Senão corpo e poesia. Se de alma é munido o homem, então Monique por dentro o corpo tem poesia a correr pelas veias, a tencionar os músculos, a expirar para fora dos pulmões.

Ela peregrina de sarau em sarau. Sua “obra” não está imortalizada em folhas de papeis com belas capas. Sim! Aquelas a envolver como mortalha todo escritor que se deu por conhecido ou famoso – sentença de morte! Já como a Noite, se despe em cada verso, chegando ao cabo de si mesma; sem roupa, sem rosto, sem carne... só um punhado de versos ereto no palco e microfone na mão.

Ela não fala dos amores, do belo, de outrora.... Pelas suas palavras gritam todos os órgãos, todas as mulheres, todas as crianças. E mais mulheres e mais crianças do que se pode contar. Na sua boca quem está gritando é o povo, é a vontade de mudar, é a inquietude, a insônia. Ela não é clássica, ela tem classe: a classe do povo que quer falar e não consegue. Ela desatou as amarras do dodecassílabo, do jâmbico e do soneto. Morte aos clássicos! Não precisa deles. Ela tem tudo o que precisa na inconformidade, outro nome para a sua escola. 

“Que ninguém lhe dê piedosas intenções, ninguém lhe peça definições...” (Cântico Negro - José Régio) Monique tem esse cântico negro engasgado na garganta. Não, ela não vai por aí...

Nesse espetáculo da vida, ela atua do momento em que desperta até a hora que vai dormir, seu palco começou no útero e terminará na cova. Se um dia fores ver Monique declamando, não é uma mulher com o microfone, é Deus falando defronte.

Há aquelas que escolhem seguir parâmetros, Monique jamais os segue. E nesse grande teatro, umas escolhem deixar o palco e sair para a morte, Monique escolheu abaixar a cortina e sair para a vida.

Iuri Mello

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