Quem a vê assim andando, nunca diria “é poeta! ”. Mal sabem
que ali eles não estão vendo mulher, nem roupa nem nada. Senão corpo e poesia.
Se de alma é munido o homem, então Monique por dentro o corpo tem poesia a
correr pelas veias, a tencionar os músculos, a expirar para fora dos pulmões.
Ela peregrina de sarau em sarau. Sua “obra” não está
imortalizada em folhas de papeis com belas capas. Sim! Aquelas a envolver como
mortalha todo escritor que se deu por conhecido ou famoso – sentença de morte!
Já como a Noite, se despe em cada verso, chegando ao cabo de si mesma; sem
roupa, sem rosto, sem carne... só um punhado de versos ereto no palco e
microfone na mão.
Ela não fala dos amores, do belo, de outrora.... Pelas suas
palavras gritam todos os órgãos, todas as mulheres, todas as crianças. E mais
mulheres e mais crianças do que se pode contar. Na sua boca quem está gritando
é o povo, é a vontade de mudar, é a inquietude, a insônia. Ela não é clássica,
ela tem classe: a classe do povo que quer falar e não consegue. Ela desatou as
amarras do dodecassílabo, do jâmbico e do soneto. Morte aos clássicos! Não
precisa deles. Ela tem tudo o que precisa na inconformidade, outro nome para a
sua escola.
“Que ninguém lhe dê piedosas intenções, ninguém lhe peça
definições...” (Cântico Negro - José Régio) Monique tem esse cântico negro
engasgado na garganta. Não, ela não vai por aí...
Nesse espetáculo da vida, ela atua do momento em que
desperta até a hora que vai dormir, seu palco começou no útero e terminará na
cova. Se um dia fores ver Monique declamando, não é uma mulher com o microfone,
é Deus falando defronte.
Há aquelas que escolhem seguir parâmetros, Monique jamais os
segue. E nesse grande teatro, umas escolhem deixar o palco e sair para a morte,
Monique escolheu abaixar a cortina e sair para a vida.
Iuri Mello
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