terça-feira, 8 de outubro de 2019

As senhoras da Gávea


Elegantes echarpes coloridas,
As suas joias são de azul-turquesa,
Possuem as vontades reprimidas:
Eis as damas da elite assaz burguesa!

Desfilam pela Gávea com seu brinco
Abrilhantado pelos seus diamantes!
E buscam o prestígio com afinco,
E rancorosas guardam-se pedantes!

Nas festas, nos seus chás, nos seus cafés,
No meio do marido infame e afoito,
Podemos enxergar o vil revés
Das saudades do século dezoito!

Sem corromper seu senso de justiça
No Domingo comungam blasfemadas!
Fazendo a caridade tão mestiça
De dar a esmola aos pobres nas calçadas!

Seus colares imensos de esmeralda
Refletem o sarcasmo deste mundo!
E o seu orgulho apenas se respalda
Na inocência do peito vagabundo!

São tolas, e o que têm de criminosas
Possuem também de índoles de santas!
Perdidas nas tragédias orgulhosas
De abafarem os gritos das gargantas!

Marido e filhos para olhar apenas
Das damas tiram todo encanto e luz...
E entristecem as vidas tão pequenas
Que ao padre prometeram sob a cruz!

Nem sabem que declinam por sofrer
Ao descobrir o esposo com a puta...
E choram ter perdido o seu poder
Das juvenis belezas em disputa!

Nenhum relógio marca o sofrimento
Das senhoras singelas e tão cultas,
Das senhoras que têm o sentimento
Oculto em terapêuticas consultas!

O seu pesar apenas se compassa
Na hierarquia fatal dos bons costumes...
Pois do que querem - vã vontade escassa -
A regra diz que querem só por ciúmes...

E das normas impera a língua má:
Se mais prata tiverem nos talheres,
Mais tristes riem risos, mas será
Que sofrem como todas as mulheres?

Guilherme Ottoni

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