sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Blog do Plástico Bolha em breve recesso
Olá, querido leitor,
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o Blog do Bolha entra de férias agora, mas volta em 14 de Janeiro! Aguardem... Feliz Natal e um ótimo fim de ano para todos!
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Feira de livros no Campo de São Bento
Três Constructos, um poema de Lucas Viriato
Existe mais verdade
no rastro da cobra
que rasteja no chão
escrevendo na areia
do que nessas palavras tolas
mera observação, por certo besteira.
Existe mais verdade
em qualquer vôo de pássaro,
na invisível movimentação de ar
escrita com a ponta das penas,
do que nessas palavras fugazes
tentativa de contemplação digna de pena.
Porém, não fossem essas palavras hábeis,
zumbindo entre o céu e o chão,
nunca que estaríamos aptos
para ver verdades alheias
a escrita invisível do pássaro,
o rastro da cobra na areia.
Lucas Viriato de Medeiros
Do Livro Retorno ao Oriente, 7Letras, Novembro de 2008
Show de Do Amor, próximo Futuros Estouros
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Para o próximo número, quem assinará a coluna será Raïssa Degoes, que fez uma entrevista exclusiva com a banda Do Amor, composta por Ricardo Dias Gomes, Marcelo Callado, Gustavo Benjão e Gabriel Bubu. Certamente você já deve ter visto algum deles por aí, tocando com o Caetano, Los Hermanos, Lucas Santana entre muitos outros artistas.
Quem quiser vê-los, todos juntos, antes da próxima edição, pode ir ao show do Do Amor, este sábado, no Cinemateque, em Botafogo. O evento ainda contará com festa à fantasia, gravação de clipe, apresentação de DJ’s e... aniversário do Bubu, guitarrista da banda.
Do Amor já se apresentou em diversos estados do Brasil, incluindo São Paulo, Bahia, Rondônia e o Distrito Federal. Quem quiser conhecer um pouco mais, pode visitar o seu MySpace aqui.
SHOW DA BANDA DO AMOR
SÁBADO, 20 DE DEZEMBRO, 21 H.
Entre na comunidade do Plástico no Orkut!
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
Triagem, um novo poema de Lasana Lukata
Miniatura n º. 18, de Marcelo dos Santos
O direito à fala. Quem o dá? O que o dá. A fala que se escreve, riscada, um dito que rasga o outro, interrompe-o, sobretudo. Nesse estágio, nesse “aquém do logos” (Derrida em A farmácia de Platão), precisamente lá, encobrem-se todas as falas de direito, no impresso. Um direito encobre o outro. O direito que advém do legislado, do legitimado, do legível encobre como uma sombra a região das falas. O privilégio da letra é civilizatório. O texto é uma permissão dada à fala para falar, este “pronto para o prelo”, quando “ficou resolvido que deveríamos conceder-vos esta nossa permissão pelo citado motivo” (idem), autorização pelo rei; isso interrompe todas as outras falas, preenche os espaços em branco. A fala se faz lei. A lei a atravessa. Logo, constam códigos do escrito, direitos de autoria, crimes contra a violação, contabilidade da produção do escrito. A literatura tenta perverter esse literal-lei, é uma tentativa de abertura, de violência. No buraco desse corte, ela vê a fera não-civilizada. Será que precisaríamos ainda fazer a ressalva de que a historiografia crítica é também uma história da lei?
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
Blind Date, um texto de Marilena Moraes
Alto, louro, olhos azuis, mas de óculos, lentes grossas.
Baixa, morena, tão comum, olhos castanhos, sem óculos, tiques ou manias; essas coisas que marcam as pessoas.
Ela passou devagarzinho pela porta do bar. Lá estava ele, encostado no carro.
Reduziu, quase parou. Lá estava ele. Alto e louro.
Pisou fundo no acelerador.
Marilena Moraes
Silviano Santiago no próximo Plástico Bolha!
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Marla de Queiroz lança Flores de Dentro
Amanhã, a poeta Marla de Queiroz, vai lançar seu livro de estréia Flores de Dentro no Espaço Multifoco, na Lapa. Além da noite de autógrafos, o evento ainda terá a apresentação de dois DJ’s tocando música brasileira a noite toda. Marla é mais uma que passa da internet para o impresso. Quem quiser, pode conferir o blog da autora aqui.
TERÇA-FEIRA, 16 DE DEZEMBRO
A PARTIR DAS 19H
ESPAÇO MULTIFOCO — Av. Mem de Sá, 126 – Lapa – RJ
O Solilóquio do Príncipe
Verdade seja dita,
gostaria que ela
me desbeijasse,
transformasse-me de volta
no sapo que eu era
e criatura feliz
naquele pequeno lago
no Tennessee.
O que posso dizer?
Devolva-me as noites
quando desafiei a lua,
gorda e redonda,
a descer
e nadar nua
até a alvorada.
Esses calções de veludo,
o alvoroço que saúda
minhas aulas de canto,
a fanfarra que soa
quando engulo mosquitos,
nada aqui se compara
àqueles momentos
em que ela despia o manto,
testava a água
com os dedos do pé
e afundava, prateando
o lago escuro
e nadava ao som
do barítono retumbante
do meu gracioso grasnido.
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domingo, 14 de dezembro de 2008
Canto XXIII da Odisséia traduzido e comentado por Rafael Huguenin
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Pound
E postou-se-lhe então sobre a cabeça e disse:
“Ergue-te, filha amada Penélope, e veja
Pois Ulisses voltou, que há muito se perdeu.
E matou pretendentes que toda tua casa
e tuas posses comiam oprimindo-te o filho.”
Respondeu novamente Prudente Penélope:
tanto destemperado fazer o que é são
como sóbrio fazer o que tem pouca têmpera.
Decerto te enlouquecem, ama outrora sã.
Zombas-me, eu que tenho alma em polipesar
do sono que meus olhos ata e brando enleva-me,
sono bom que eu não durmo desque ele se foi
para o Tróiço maldito que o nome não ouso.
Mas Eia! Vai-te agora e encerre-se no quarto,
pois se outra das escravas dentre as muitas minhas
vem aqui e falando tais coisas me acorda,
curta e grossa no quarto a poria em castigo,
mas disso com certeza a velhice te salva.”
Respondeu novamente Ama Amada Euricléia:
“Não zombo-te, querida, mas digo em verdade
Pois Ulisses voltou, em verdade declaro,
o estrangeiro, que muitos na sala insultavam.
E Telêmaco apenas há muito sabia
mas astuto ocultou os planos do seu pai
Odisséia, Canto XXIII - Versos 1 ao 31
Comentários
Nossa humilde tentativa, antes de tudo um esforço de um apaixonado pela poesia pouco afeito aos rigores que o estudo das línguas clássicas exige, é fruto de um estudo que realizamos acerca da poesia oral grega e da tradução de algumas partes da Odisséia. A transcriação que ora apresentamos, em versos alexandrinos, constitui apenas uma dentre as inúmeras possibilidades de invenção poética que o texto grego oferece aos poetas de língua portuguesa. Entre a condensação máxima da tradução decassilábica obtida por Odorico Mendes, que o obrigou a pular versos e a criar uma série de neologismos e novos arranjos sintáticos, e a tentativa de Carlos Alberto Nunes de buscar um metro equivalente ao hexâmetro grego, que, a despeito da fidelidade em número de sílabas ao original, não constitui um metro típico da poesia de língua portuguesa, optamos pelo verso de doze sílabas, o metro regular mais largo de nossa tradição.
A parataxe, isto é, relações coordenadas, é uma característica fundamental da poesia oral e, segundo alguns, da própria mentalidade de uma cultura de oralidade primária. A maioria das traduções contemporâneas de textos arcaicos tende a projetar sobre o texto antigo critérios discursivos que não se aplicam devidamente ao contexto da época. É mais cômodo ao ouvido moderno estruturar os enunciados de forma hipotática, isto é, estabelecendo relações subordinadas/lógicas entre eles, do que tentar ouvir o texto em toda a sua estranheza originária. No entanto, nossos critérios lógicos não se aplicam, de forma alguma, a um texto composto provavelmente por volta de 800 a. C. Sendo assim, tentaremos utilizar, sempre que possível, relações coordenadas.
Verso 7 – A parte inicial deste verso, êlth' Odyseùs kaì oîkon ikánetai, é repetida mais adiante no verso 27, o que caracteriza a utilização de uma fórmula, recurso típico da poesia oral. Cerca de um terço da Ilíada e da Odisséia é constituído por repetições, ipsis litteris, seja de versos inteiros, seja de partes menores de versos, chamadas fórmulas. O poeta homérico possuía um vasto repertório de expressões formalizadas, que ele utilizava em contextos métricos específicos, de modo a facilitar a improvisação. Qualquer semelhança com o nosso repentista não é mera coincidência.
Verso 10 – A parte inicial deste verso (tên d'aûte proséeipe) é repetida adiante, no verso 25, o que constitui outra utilização de fórmula. Traduzimos a expressão perífrôn Pênelópeia por Prudente Penélope, grafando com maiúscula o adjetivo de modo a caracterizar melhor o conjunto nome-epíteto, o tipo de fórmula mais comum nos poemas homéricos. Caso contrário, correríamos o risco de sugerir, na tradução, algum tipo de uso adverbial, certamente inapropriado.
Versos 12-13 – Os dois versos constituem um paralelismo, recurso largamente utilizado na poesia homérica e na poesia oral de modo geral. Fizemos uma tentativa de reproduzir, ainda que de forma provisória e um tanto arbitrária, a aliteração sugerida pelo emprego de quatro palavras com a mesma raiz: áphrona (acusativo singular de a-phrôn, palavra composta de um alfa privativo mais a raiz phrên, que pode ser traduzida, literalmente, por sem-entranha, mas também por demente, sem juízo, tolo, etc.), epíphrona (acusativo singular de epí-phrôn, que pode ser traduzido por pensador ou prudente), chaliphronéonta (particípio ativo acusativo singular do verbo chaliphronéô, composto por chaláô, que significa perder, mais a raiz phrên. Pode ser traduzido, literalmente, por que perde entranha ou perdendo entranha). E, por fim, saophrosynês (genitivo singular da forma poética de sôphrosýnê, palavra composta por sôs, que significa seguro, saudável, e phrên. Pode ser traduzida por temperança.) Um dos modos possíveis para manter a mesma raiz nas quatro palavras é utilizar os termos destemperado, têmpera, intemperante e temperança.
Verso 14 – Nossa opção (boas têmperas) para a expressão phrénas aisímê, que pode ser traduzida, literalmente, por entranhas corretas, soa esquisito em português. Tem obviamente o sentido de ter juízo, segundo o léxico Liddell & Scott. Isso explica-se pelo fato de que os gregos situavam nas entranhas, phrénes, o centro de atividades intelectuais, emotivas e intencionais. Phrên é equivalente ao termo latino praecordia, que pode ser traduzido por diafragma, coração, peito, vísceras, sentimento, etc.
Verso 15 – Polipesararosa, isto é, cheia de pesares, é nossa solução para polypenthéa, acusativo singular de poly-penthês, palavra composta de polýs (muito) mais pénthos (pesar). Acreditamos que o português é rico o bastante para traduzir qualquer expressão grega. O que falta é um pouco de esforço, e alguns quilômetros a mais de leitura dos nossos quinhentistas.
Rafael Huguenin é aluno do mestrado em Filosofia na PUC-Rio e, segundo ele mesmo, para sua desgraça, também é poeta e tradutor. Além disso, ainda acaba de terminar uma outra graduação em Letras (Português-Grego), na UFF.
Já publicou dois poemas no Plástico Bolha e, dessa vez, enviou essa belíssima tradução (ou transcriação) em versos alexandrinos do canto 23 da Odisséia, de Homero, seguida de alguns comentários.
Neste breve texto, podemos ver o quanto nosso amigo domina o assunto e o quão fascinante é a dedicação de algumas pessoas pelos textos clássicos. Sempre admirei muito pessoas que passam horas de suas vidas em frente à Ilíadas, Odisséias, Bhagavad Gitas ou Bíblias, destrinchando termos, analisando escolhas, chegando um pouquinho mais perto de outros tempos, de civilizações que já não estão mais por aqui. Esse tipo de estudo, que cruza os séculos, faz parecer que os 20 anos de espera de Penélope nem são tanto tempo assim.
Viva Junito Brandão e todos aqueles que usam o passado para nos fazer entender o presente e construir o futuro.
Corujão da Poesia faz arrecadação de livros
Centro de Espirituosidade Mãe Ida
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Letícia Féres
sábado, 13 de dezembro de 2008
Novo poeminha de Isabel Diegues
Estava péssima.
Me olhei no espelho e
não estava tão péssima assim.
Eu me conserto
para a platéia que sou
eu mesma.
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Isabel Diegues
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Isabel Diegues é diretora e produtora de Cinema. Desde 2004, começou a se aventurar pelas Letras. Este ano, nossa amiga de Plástico Bolha abriu uma editora chamada Cobogó, que publicou o livro Saga Lusa, de Adriana Calcanhotto, além de livros sobre a Bienal de São Paulo.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Estátua no centro da cidade
Lançamento do Bondinho no Cinemateque
The Prince’s Soliloquy
Truth be told,
I wish she would
unkiss me,
turn me back
into the frog I was
and happy being
in that small pond
in Tennessee.
What can I say?
Give me back nights
when I dared the moon,
fat and round,
to step down
and skinny dip
until dawn.
These velvet britches,
the foofaraw that greets
my singing lessons,
the fanfare raised
when I swallow gnats,
nothing here even close
to those moments
when she dropped her cloak,
tested the waters
with her toes
then slipped in to silver
the dark pond
and swam about
to the booming baritone
of my lovely croak.
Ricardo Sternberg
Ricardo Sternberg é carioca, mas mudou-se para os Estados Unidos com a família aos quinze anos de idade.
Bacharel em literatura inglesa pela University of California, Riverside, fez mestrado e doutorado em literatura comparada na UCLA. Seus poemas já foram publicados em revistas como The Paris Review, The Nation, Poetry (Chicago), Descant, American Poetry Review, The Virginia Quarterly e Ploughshares. Publicou The invention of honey (1990, reeditado em 1996), Map of dreams (1996) e Bamboo church (2003, reeditado em 2006).
Desde 1979, vive no Canadá, onde dá aulas de literatura portuguesa e brasileira na Universidade de Toronto. Escreve quase exclusivamente em inglês, mas não nega a influência de Bandeira, Drummond e Cabral.
Em 2007, fez uma visita à PUC-Rio, apresentando uma pequena palestra para os alunos da Oficina de Poesia do professor Paulo Henriques Britto. Nesta ocasião, Sternberg enviou ao Plástico Bolha cinco poemas. Quatro deles foram traduzidos por Marilena Moraes, Mariana Lopes Peixoto e Luisa Noronha, todos com a supervisão de Paulo Britto.
Jornal do Brasil escolhe os melhores do ano
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Crawling, texto de Marcela Sperandio Rosa
Índia em fragmentos poéticos
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Ir à Índia e mergulhar numa cultura tão sofisticada e diversa da ocidental pode mudar a vida de uma pessoa – a ponto de desencadear um processo de escrita que já gerou dois livros. Foi isso o que aconteceu com Lucas Viriato de Medeiros, aluno do Departamento de Letras da PUC-Rio, que acaba de lançar Retorno ao Oriente, uma espécie de diário de viagem em forma poética que inclui crônicas, textos em prosa e até piadas.
Em 2006, Lucas embarcou em sua primeira aventura pela Índia, a convite de sua professora de yoga. O único contato dele com a cultura daquele país tinha se dado por meio do Movimento Hare Krishna, fundado no Ocidente pelo mestre espiritual indiano Srila Prabhupada, na década de 1960. Essa experiência resultou no livro Memórias Indianas, uma coletânea de fragmentos poéticos que intercala jogos de linguagem com passagens mais narrativas.
– Na primeira viagem, passei a maior parte em Pondicherry, uma cidade do sul da Índia que lembra a Riviera francesa. Lá, tive uma convivência muito real, diferente da visão de turista tradicional. Ir à Índia é sair completamente do nosso mundo eurocêntrico. Gosto muito do que choca e gera estranhamento cultural, diz o escritor.
Também escrito em fragmentos, Retorno ao Oriente é o resultado da segunda viagem de Lucas, dessa vez ao norte da Índia. “Este livro surgiu assim, um pouco como pretexto, um pouco como desculpa ou contrapartida para a nova viagem”, conta o autor. Na cultura indiana, o número 108 tem um significado relevante, que remete à transcendência. O livro consiste em 108 pequenos flashes que, segundo ele, “se deslocam entre a apreensão poética da realidade e o exercício da imaginação”. Para Paulo Henriques Britto, professor do Departamento de Letras, esse é o aspecto mais interessante da obra:
– A concepção do livro é muito inteligente. A Índia não é um país, é um mundo. Por isso, ao invés de fazer um texto unificado, ele fez vários fragmentos. Esse caráter do texto tem tudo a ver com o pluralismo indiano, afirma.
No prefácio, a professora Marília Rothier Cardoso destaca como a escrita de Lucas desperta a imaginação. “Este livro exige atenção, raciocínio e disponibilidade para o fascínio e a alucinação. Nenhum instante de tédio nessa viagem pelos roteiros da escrita”, diz.
Lucas também é editor do Plástico Bolha, um jornal que nasceu em 2006, com quatro páginas, e hoje circula com dezesseis páginas, com uma tiragem de treze mil exemplares. O Plástico Bolha já publicou textos de cerca de 250 autores, muitos deles estreantes, e, agora, também está presente na internet, no site http://www.jornalplasticobolha.com.br/, e em várias cidades do estado do Rio de Janeiro, além de em Belo Horizonte, Vitória, Vila Velha, Porto Velho, Salvador e Brasília.
Matéria de Carlos Heitor Monteiro, Jornal da PUC, Dezembro de 2008
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Novo texto de Jota Maia
Cineclube Beco do Rato, toda quinta-feira
Para quem não conhece o CINECLUBE BECO DO RATO, aqui vai a oportunidade de aproveitar o fim de ano para conhecer. O evento que reúne Poesia, Música e Cinema acontece não só amanhã, dia 11, como todas as quintas-feiras, a partir das 20h. Ah, e o melhor: é gratuito!
Os filmes da sessão de amanhã são:
No Princípio Era o Verbo, de Virginia Jorge
BMW Vermelha, de Reinaldo Pinheiro
Manequim de Flor, de Criação Coletiva
Logo após a sessão, começa o evento de poesia com os Ratos Di Versos. Vá e leve também os seus amigos!
EVENTO GRATUITO
TODAS AS QUINTAS
A PARTIR DAS 20 HORAS
BECO DOS CARMELITAS, 9 – LAPA
Informações: 2221-2832
ratoeira@cinemaneiro.com.br
Poema inédito de João Ayres
eu canto o silêncio
que roça o que não sei
os nomes todos perdidos
na inconsciência da hora escura
como quem jamais sabe
para que lado o vento sopra
como qualquer pronome indefinido
nesta terra de ninguém.
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eu canto o animal morto
por qualquer caçador sanguinário
que esteja a beber contente
o sangue da vitória no abandono
no delírio constante de um louco suicida
que esteja a devorar as entranhas de um porco.
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João Ayres
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Sarau Conecte fecha o ano na Lapa
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2 poemas do novo livro de Gregório Duvivier
já não me diz nada um pôr do sol em cancun
e um coqueiro em alto mar já vagou por protetores
de tela demais para me causar qualquer sensação
de bem-estar; os casais parisienses que habitam
calendários já não me dão sequer vontade
de ir a paris assim como não me comovem
mais as crianças de sebastião salgado nem
a menina que foge do ataque do napalm
e que em breve estampará cangas e biquinis;
as imagens estão gastas e não há nenhuma
que erga pontes como a palavra que.
para Isabel Wilker
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Te encontro na Moldânia ou na Manóvia
às sete da noite de 2016 na praça
principal de uma cidade excusa
em que as ciganas foram proibidas
de tomar café e os negros pintam a palma
da mão de amarelo e as pousam sobre
a fronte cansada da longa viagem de trem.
(chegaremos a pé cada um de um lado
e você se sentará sobre um banco envolta
em serpentinas e um manto xadrez
e sobre o teu colo eu tombarei como um boi.)
Ana Cristina Cesar, a nossos pés
Assim, este livro vem a partir de uma proposta feita por Dorva Rezende, amigo e bom parceiro de conversa, para organizar uma ocupação de duas páginas no segundo caderno do Diário Catarinense com algo que não fosse apenas uma efeméride, mas uma revisão por dentro dos poemas de Ana Cristina Cesar. O que logo pensei em armar foi algo como poema rompendo poema, uma armadilha para desfazer um pouco esta coisa muito cansativa e repetida da poeta precoce que se matou (e ainda a poeta carioca, a genial, a burguesa, a quase mito etc, e que hoje é muito mais uma grife ou um carimbo póstumo do que qualquer outra coisa). E isto para manter o sufoco da deliciosa poesia de Ana Cristina Cesar. Mas jamais conseguiria fazer isso sozinho, daí convidei uma artilharia imprecisa, um exército errante que veio de lugares espalhados pela distância para compor alguma diferença: raspar com poemas a poesia de Ana.
Convidei 13+1 bons conversadores de linha e verso para fazer algo mais generoso com Ana, mais gentil, mais delicado: escrever linhas de circunstância, mas não por isso com menos desejo e menos política. Muito obrigado a cada um pela companhia. Aqui está o resultado do impasse depois das páginas do jornal: este livro. Livro que abre uma parceria muito generosa e afetiva, entre a Editora da Casa e a Dantes Editora, que espero seja uma espécie de começo dentro do começo, um rodopio. A poesia de Ana Cristina Cesar merece, e muito, esta conversa que não é de céu nem de reverência, mas é de chão: colocar sua poesia a nossos pés.
A nossos pés — 14 poemas para Ana C.
para o lançamento do livro
A nossos pés
14 poemas para Ana Cristina Cesar
(org. Manoel Ricardo de Lima)
Anibal Cristobo
Annita Costa Malufe
Carlos Augusto Lima
Henrique Schroeder
Cristiano Moreira
Eduardo Sterzi
Heitor Ferraz Mello
Júlia Studart
Laura Erber
Manoel Ricardo de Lima
Marília Garcia
Ricardo Aleixo
Verônica Stigger
No Rio:
dia 13, sábado - 18 hs
OCUPAÇÃO COPACABANA FILMES
Rua Marquês de São Vicente, 431
+ pocket show AVA Rocha
Em Belo Horizonte:
dia 13, sábado - 16 hs
LIRA - Rua Divinópolis 301 / casa 03
+ leituras com Júlia Studart, Ricardo Aleixo e
Manoel Ricardo de Lima
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Chansong II
"I’ve never been in Paris for the summer
I’ve never drank a Scotch with this bouquet"
Antônio Carlos Jobim
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Nunca vendi cavalos nas feiras da Tartária
ou me perdi nas formalidades dos mestrados
Nunca fundei dinastias sobre reis assassinados
ou joguei comediantes bestas sobre as feras
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Jamais encontrei Buda no menu dos restaurantes
tampouco acendi lâmpadas na guerra da Coréia
Jamais corri assustado alvejado por manifestantes
tampouco li Gilgamesh na língua da Caldéia
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Não produzi chacinas ou dividi famílias e alianças
nem dirigi carros de embaixada com insígnias de estado
Não enriqueci com poços de petróleo no Arkansas
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nem engordei bezerros nas planícies do el dorado
Não fui gerente de bar ou garimpei nas minas de ouro
apenas escrevo sonetos antes de entrar na arena dos touros
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Calos Andreas
do livro Abissínia, Ed. Multifoco, Setembro de 2008
Adriana Calcanhotto fura o Plástico Bolha!
domingo, 7 de dezembro de 2008
Dica do dia: Dobradura, de Alice Sant'Anna
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A idéia é indicar um livro a cada domingo. Para começar com o pé direito, a dica de hoje é o badaladíssimo livro de estréia da poeta, nossa amiga de Plástico Bolha, Alice Sant'Anna.
Ao longo dos 47 poemas do livro, Alice mostra que já está a vontade na poesia. As longas horas de observação pela janela do ônibus, as memórias trabalhadas, as anotações no caderninho, as postagens no laboratório-blog; tudo isso contribui para que a sua poesia ganhasse um valor indiscutível. Em A dobradura, a autora nos apresenta uma subjetividade cuidadosamente construída que apreende o mundo de forma simples mas sempre com muita graciosidade. Alice forjou uma dicção poética tão natural que parece já nascer pronta — aquele tipo de construção linguística que parece sempre ter estado ali, tendo cabido ao poeta apenas descortiná-la. Mas Alice não é ingênua: "suspende o fôlego (é tudo ensaiado)"... No campo sonoro, o trabalho também não deixa a desejar, assim como a produção editorial da 7Letras que fez um livro tão delicado quanto o seu conteúdo.
Alice já é velha conhecida dos leitores do jornal Plástico Bolha. Os seus textos já publicados podem ser encontrados no link . É legal ver como algumas versões do livro são bem diferentes das publicadas no jornal. Atenção especial para "Marcelina" e "o que sei sobre os gatos", que tiveram alterações mais significativas.
A partir da próxima edição, Alice vai estrear uma coluna exclusiva no Plástico Bolha. Devido ao trabalho que ela já vem desenvolvendo, e ao estilo trocadilhesco do jornal, a coluna foi batizada como Dobradinhas e será co-editada pela autora. A idéia é publicar sempre um poema dela com o de um convidado. Para a Dobradinhas de estréia, Alice convidou Ismar Tirelli Neto e o tema serão as manias de cada um. As ilustrações da coluna serão assinadas por Raïssa Degoes.
Para fechar, uma das minhas poesias preferidas do livro:
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quando faltou luz
ficou aquele breu e eu
com as mãos tremendo
morta de medo
de tudo se iluminar
de repente
Poema de rede
Me deixa branda
Quando me abraça,
E sem ele fico escassa.
Me lança saudosa
E eu me venho embora
Espero ansiosa, e a hora não passa.
Mas ele me amansa.
Minha voz baixa o tom,
Minha angústia descansa.
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Adélia Jeveaux
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Lançamento de "O Velho Oeste Carioca"
Com solo, Consolo
Deixe eu deliciar esse cotovelo que tu tens. Cotovelo concreto e completo que tu tens, onde guardas ainda um pouco de simplicidade. O resto do teu corpo é todo complicado, uma confusão de dentes e cabelos, cérebro úmido e mal-entendido amarrado no nó dos intestinos. Amarrado à barriga, amarrado ao útero inútil. Deixa eu tocar-te o cotovelo. Cotovelo belo como aquela torta macieira que subias nos verões da tua infância. A macieira tinha a mesma pele seca e umas cicatrizes que vocês deram uma à outra. E tu ficavas escondida nos braços dela, e tu matavas as formigas. E comias as maçãs, e comias as sementes das maçãs porque a tua mãe te disse que uma pequena macieira cresceria dentro de ti se tu comesses as sementes das maçãs. Era uma mentira de mãe, mas tornou-se verdade da filha quando arrancaram tua macieira numa tarde de raízes súbitas. Deixaram só as pétalas caídas na bacia.
Eu quero despetalar-te. Deixa eu ver este teu cotovelo, maçaneta do teu ser. Deixa eu entrar e assim entrando entender, talvez, a tua insistência nas coisas que não existem.
sábado, 6 de dezembro de 2008
Lançamento do livro "A partir de amanhã eu juro que a vida vai ser agora"
Terças Literárias com Bia Bedran
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Lançamento de "O outro lado do sol"
Este é o convite para o lançamento da antologia de contos "O outro lado do sol", que acontecerá no dia 10/12/2008, no Palácio da República, Catete, das 18:00 às 22:00h. Leonardo Vieira de Almeida é da pós-graduação de Letras da PUC-Rio e já publicou alguns de seus contos na coluna Contos Insólitos do Jornal Plástico Bolha. Quem quiser, pode dar uma lida nos seus textos no link: www.jornalplasticobolha.com.br/autores/autor_leonardo_vieira.htm
Alice
amargo as demoras.
a cumbuca vazia
de açúcar e sal
e a falsa alegria
do pôr do sol
são a vida insossa
e a nossa lida
a dança das cortinas
ao evaporar o som
das brisas melódicas
o vácuo da sensação
e o sussurro das
gralhas
angustiadas pelo
outono
tudo absolutamente
concomitante à
ausência do olhar
ardente de Alice
dos olhos de Alice
cintilam eucaliptos
amortizando a
falibilidade
da humanidade
Luiz Coelho
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