quarta-feira, 24 de abril de 2019

Eu sou o Brasil profundo


Eu sou o Brasil profundo. E antes dela eu não sabia.
Quando vi samba de coco achei tudo muito esquisito.
“É porque você não está acostumado”, disseram.
O que é diferente não é banal e causa olhar arredio, estranhamento.
Os brasis reunidos não é coisa banal.
Eles proclamam uma voz uníssona de estranhamento mútuo.
Quando um mineiro de Juiz de Fora viu massa para se fazer cuscuz 
ele estranhou.
Assim como estranhei os acarajés.
“O pato no tucupi tem jambu”.
Eu sou o Brasil profundo. E antes dela eu não sabia.
Vi frevo e maracatu. A dança da fita já tinha visto na minha terra.
Vi saudades do mar.
E alívios da distância do Atlântico – que não fica no ar do desejo.
“O mar daqui é o céu”, dizem isso.
Vejo que o tempo do mar acabou. Sim, acabou o tempo do mar.
Eu sou o Brasil profundo. E antes dela eu não sabia.
Os brasileiros dos litorais não compreendem.
Brasília não foi feita para quem quer morar em Ipanema.
Eu não quero morar em Ipanema.
Eu não sou da civilização do mar.
Eu sou o Brasil profundo, que se anuncia e não se ouve.
Eu sou das Minas e de Goiás.
Do Piauí e do Mato Grosso.
Sim, ruíram os litorais!
Eles marcham para o além-mar, porque é o que sua visão alcança.
Eu marcharei para o Brasil!

Mardson Soares



Mardson Soares é nosso colaborador de Bom Jesus, no Piauí.

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