sábado, 6 de abril de 2019

Seu Antônio


Todo dia quando acordo vou tomar um café no bar da esquina. Sempre um expresso duplo, daqueles de máquinas. É a primeira coisa que faço quando o dia começa, e só é um bom dia se eu tomar meu café.

Acontece que nesse bar que, como a poetisa Matilde Campilho chamou de “padaria fétida onde os notívagos encontram sua última dose”...isto é, quando, às 6 da manhã a padaria-bar abre as portas, os notívagos se encontram com os madrugadores, os que acordam cedo, e fazem a fila pra comer seu pão na chapa enquanto que os notívagos viram sua última gota de álcool que encontram entre o último bar que fechou e o primeiro a abrir as portas...

Nessa padaria fétida o primeiro a abrir as portas é Seu Antônio. Acho que Seu Antônio é português. Ele não fala muito. Pelo menos, não que os outros escutem...acho que fala de si para si.

Foi numa dessas madrugadas que reparei numa coisa. Se alguém chega muito agitado no bar, dando bom dia para todos numa alegria um pouco desmedida, como se fosse bom acordar três e meia pra trabalhar no calor de uma padaria do outro lado do mundo, Seu Antônio serve o café com uma resposta sussurrada: um simples, verdadeiro, e quase inaudível “vai tomar no cu”!


Bernardo Sá Earp



Bernardo Sá Earp é artista visual e está iniciando seu caminho na escrita. Estudou Filosofia na PUC-Rio e viu o Plástico Bolha nascer.

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