Meu
verso é livre como um condenado em regime de prisão domiciliar
Carrega
um aparelhinho preso no tornozelo
Que
apita quando ele se afasta tantos metros de casa
Mas
os vizinhos nunca o ouviram apitar
Porque
meu verso é obediente
E
só abre a porta para pegar o jornal
Cumpre
pena atolado no sofá
Meu
verso é livre como um cão medroso que pensa em fugir,
Mas
só pensa, porque ele ama a liberdade,
Mas
também ama a coleira
Então
ele fareja e explora e dá meia-volta
No
limite onde a corda termina e começa a rima
Meu
verso é livre como uma vítima de sequestro com Síndrome de Estocolmo
Ele
já está aqui há tanto tempo
E
se aconchega na forma do cativeiro
E
conhece todos os sons que vêm de fora
E
já não sabe mais se prefere ficar
Ou
se ainda cultiva alguma vontade de ir embora
Meu
verso, livre, tem muitos braços
E
por isso permanece algemado
Deus
hindu desastrado
Ele
os estica na tentativa
De
alcançar tudo o tempo todo
O
vaso, a vela, o livro
A
planta, a lâmpada, a câmera
E
ele quebra as coisas.
Pronto,
aí está: quebrou o vaso
Meu
verso é livre como um adulto de castigo
João Miguel Maio
Nenhum comentário:
Postar um comentário