quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Sem fantasia


A tristeza a excruciar-me o semblante
Perpassa fugidia sob o véu diáfano
De uma nuvem a ocultar-se no céu
A disfarçar-se com o clarão do dia
Em delírios de folia a crer-se Pierrot
Histrião frustrado de teatros vazios

A tristeza que leva a dor um passo adiante
Carrega na garupa o meu sorriso álacre
Qual pileca chucra com destino duvidoso
Barco funéreo sem vintém e sem Caronte
Que transporta este polichinelo anacrônico
Pelo ressecado leito de um burlesco Estige

A tristeza a assolar-me assim de rompante
Depaupera-me a resistência à exaustão
A forcejar como tenaz, férrea e inabalável
Descola o rímel, a viola, a fantasia de tule
Mas gruda no plasma, prolifera no hálito
E só desgarra se do sonho não ouso lembrar

Paulo Monteiro

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