Há em meu peito uma praga!
O que em meu ombro pousa
não é uma chaga que repousa
nem um filho mau
que advém da graça divina.
Em um lado do peito o catarro infiltrado
encrosta em minha imunossupressão
e me deixa artifícios para uma noite morte.
Quão assim sou elevado estranho?
Tamanha é a dor que revolta e me ilude
com a vicissitude de que a morte chegue
e com ela o deslumbrante alívio.
Tenho que dizer-te que viver para mim
é quase sempre um tormento.
Há quem comigo conviva
que diga que sou a própria morte,
pois, por tanto amar a vida,
quando ela, a morte, me convida,
em face do sofrimento que finda,
eu parto agradecendo a sorte.
Carlos Cardoso
Carlos Cardoso é engenheiro, natural do Rio de Janeiro. É autor do livro "Melancolia", vencedor do prêmio APCA 2019 como melhor livro de poesia.
2 comentários:
muito bom!
Sempre uma bela poesia!
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