segunda-feira, 13 de abril de 2020

Pneumonia, poema de Carlos Cardoso


Há em meu peito uma praga!

O que em meu ombro pousa
não é uma chaga que repousa
nem um filho mau
que advém da graça divina.

Em um lado do peito o catarro infiltrado
encrosta em minha imunossupressão
e me deixa artifícios para uma noite morte.

Quão assim sou elevado estranho?
Tamanha é a dor que revolta e me ilude
com a vicissitude de que a morte chegue
e com ela o deslumbrante alívio.

Tenho que dizer-te que viver para mim
é quase sempre um tormento.

Há quem comigo conviva
que diga que sou a própria morte,

pois, por tanto amar a vida,
quando ela, a morte, me convida,
em face do sofrimento que finda,
eu parto agradecendo a sorte.

Carlos Cardoso



Carlos Cardoso é engenheiro, natural do Rio de Janeiro. É autor do livro "Melancolia", vencedor do prêmio APCA 2019 como melhor livro de poesia.

2 comentários:

Anônimo disse...

muito bom!

Unknown disse...

Sempre uma bela poesia!