quarta-feira, 3 de abril de 2024

Percebendo Marguerite


Percebendo agora, essas paredes brancas foram um engano

Você me olha da porta com desinteresse e diz que discorda

Marguerite Duras me olha da cama e diz que concorda

Marguerite é qualquer coisa menos dura:

Diz, com ternura, “foi um engano”


Satisfeita, puxo o livro, sopro a poeira

Leio alto, com postura, curiosa e empolgada

Vejo luzes fraquejando, roupas adornadas e um lenço pendendo do                                                                                               [teto

Mapas enquadrados, cidades inflamadas e corpos recém descobertos

Na parede está a bomba (como um cogumelo)

Caindo sobre o quarto (atmosfera de encanto mesmo ao som dos seus                                                                                         [protestos)


Eu sei que você está odiando

Porque sua cara evidencia o quanto tudo é ordinário

E revela, sem sutilezas, a nudez do meu palco


Ainda tenho Hiroshima às minhas mãos

Tenho Marguerite me encarando e você claramente enfadado

“Hiroshima é super trágico”


Dou tudo de mim (estou encenando)

Dou tudo de mim e ainda assim

A plateia pode estragar o espetáculo Paula Reis Vianna

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