Entrevista com a performer e coreógrafa Marcela Levi
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(por Laura Erber)
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(foto de Claudia Garcia)
.E não somente não podemos nos pensar a nós
mesmos em termos de adjetivos, mas também os adjetivos
que nos aplicam, não podemos jamais autenticá-los:
eles nos deixam mudos; são para nós ficções críticas.
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ROLAND BARTHES
mesmos em termos de adjetivos, mas também os adjetivos
que nos aplicam, não podemos jamais autenticá-los:
eles nos deixam mudos; são para nós ficções críticas.
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ROLAND BARTHES
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A afirmação de Barthes, deslocada para o campo da performance, pode nos convidar a imaginar um corpo furtivo, espécie de massa em movimento que se redesenha continuamente, deslizando de sentido em sentido sem se deixar deter pela tentação classificatória. Avançando ainda com a sutileza do pensamento de Barthes, é preciso lembrar que não se trata de recusar o “mau” adjetivo para aderir às promessas de um corpo belamente engajado, que se apóia nos “bons” adjetivos e nas nobres intenções para tornar-se herege, marginal ou transgressor. A operação desviante que o corpo furtivo põe em marcha deverá ser mais árdua e mais discreta, trata-se de produzir um corpo que, ao se interrogar em cena, consegue armar-se em paradoxos, ativar suas ambiguidades sem desfazê-las por completo diante dos olhos do espectador..
É de uma operação semelhante que se constitui o trabalho da performer e coreógrafa carioca Marcela Levi (Rio de Janeiro, 1973). Uma das linhas de força de suas performances reside precisamente no modo como consegue dar a ver os interstícios do corpo, suas fissuras e fugas de sentido, um corpo que é atravessado pela presença de objetos que o alteram, modulam, redefinem. Desde que deu início a seus projetos individuais com o trabalho Imagem (2002) Levi vem se destacando no contexto da dança e das artes por lançar mão de uma linguagem performática que tumultua a hierarquia entre corpo e objeto, incidindo sensivelmente sobre as dicotomias (dentro-fora, corpo-mente, ativo-passivo, afirmação-negação) nas quais nos apoiamos habitualmente para pensar e lidar com o corpo. O corpo, para Levi, não existe a priori, é algo a ser produzido em cena, é um lugar de passagem, de transmutação, é embrionário mas, ao mesmo tempo, tenso, crispado, rigorosamente elaborado. Permeável – mas não sem resistência - aos objetos que são utilizados em cena, o corpo é retirado de uma situação de fechamento, de totalidade e de identidade fixa. Entre um e outro circulam constelações de cansaço, demência, tensões, violência como engrenagens de intensidade emotiva em mutação. Vale a pena ainda apontar o humor singular que emerge em suas performances e que colabora para esse “desfazimento” dos limites de um corpo autárquico e autônomo, e, através do humor, surgem também possibilidades de um outro pensamento sobre o corpo contemporâneo, tensionado nesse jogo de forças entre a passividade e o excesso de estímulo (e controle), ao qual, por bem ou por mal, estamos todos submetidos.
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Antes de te colocar algumas perguntas, gostaria que você falasse um pouco sobre a sua trajetória. Você começa trabalhando como intérprete em companhias de dança antes de iniciar seu trabalho solo como performer e coreógrafa independente. Como se deu essa passagem?
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Colaborei durante oito anos (1994 – 2002) com a coreógrafa Lia Rodrigues. Trabalhei na companhia como intérprete/criadora e assistente de direção. Quando realizei meu primeiro projeto, a performance Imagem, eu ainda estava na companhia. Ensaiava inúmeras vezes durante as turnês, em quartos de hotel. Algum tempo depois, deixei a companhia e comecei a investir em projetos próprios e em colaborações temporárias com artistas visuais e outros coreógrafos. Atualmente, colaboro com a coreógrafa portuguesa Vera Mantero e estou desenvolvendo um novo trabalho, um duo, que se chama Em redor do buraco tudo é beira. Portanto, não foi bem uma passagem, pois mesmo dentro da companhia eu já fazia várias coisas. Acho que desde o inicio percebi que não queria me fixar numa posição. Até pouco tempo atrás, me sentia engasgada quando alguém me perguntava sobre a minha profissão. De uns tempos pra cá prefiro alternar as respostas, algumas vezes digo que sou bailarina, outras vezes me apresento como coreógrafa ou performer ou as três coisas, dependendo da situação.
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O escritor Francis Ponge (1899 – 1988) propunha uma poesia tocada pela força de empuxo dos objetos (Le parti pris des choses). Ponge acreditava que para retirar-se da ciranda estéril do humanismo era preciso “se deixar puxar pelos objetos”. Para ele, não se tratava mais de organizar as coisas ao nosso redor para atingir uma harmonia, mas de se deixar desarranjar por elas. Há algo no seu trabalho que parece seguir um impulso semelhante, os objetos funcionando como um furo na redoma de sentidos e de práticas que tendem a delimitar os limites entre sujeito e objeto. Você chegou a criar a expressão “subjetos” para designar esse corpo transitivo, poderia falar um pouco sobre isso?
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Sim, é exatamente isso: “... se deixar puxar pelos objetos”. Quando estou trabalhando, penso em me “submeter” aos objetos e não apenas em manipulá-los, como se fossem algo sobre o qual tenho controle. Busco experimentá-los, um pouco como fazem as crianças. Gosto muito de observar as crianças se movendo, elas têm um estado de momento, ou seja, elas acessam um estado de atenção que se assemelha a certa intensidade dos animais. Diferentemente dos adultos, não estão atravessadas pelas noções de futuro ou passado, simplesmente estão lá, inteiramente instaladas no aqui e agora, assim como os animais e disso surge uma presença completamente fascinante. Acho que as crianças não “fazem coisas”, elas se misturam ao que fazem, elas são o próprio ato. Cada passo é um passo e nada além disso, cada gesto fala do gesto em si. Nunca sei se elas estão jogando com os brinquedos ou se são os brinquedos que estão jogando com elas. É esse tipo de experiência que procuro ativar no meu trabalho com os objetos, uma terceira coisa que não é mais nem o meu corpo nem o objeto em sua autonomia, mas sim um corpo/objeto/sujeito imbricado. Foi dessa prática de trabalho que surgiu a palavra “subjetos”: objetos/sujeitos deslocados e desfuncionalizados.
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Mais do que questões de gênero e de alteridade, o seu trabalho interroga posições de poder atravessadas por paradoxos. Sem deslindar para um relativismo cínico, você parece estar mais interessada em mostrar que cada nó de poder é uma massa de nuances, um núcleo que transporta divergências internas e ambiguidades. Assim também o corpo passa a ser percebido como um solo fissurado, que se dobra por suas próprias contradições, tensões, buracos. Como você situaria o seu trabalho no contexto da performance produzida atualmente? Que performers ou artistas lidam com questões que motivam ou inspiram a sua prática?
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Me interesso por obras que deixam espaço, que abrem buraco, que funcionam como um gatilho liberador de reflexões, afetos e associações. Me interesso por artistas que me põem pra trabalhar. Nessa direção, penso num trabalho-solo da coreógrafa portuguesa Vera Mantero Uma misteriosa coisa disse o e. e. cummings, nas Piezas distinguidas da performer espanhola La Ribot, no espetáculo Nom donné par l'auteur do coreógrafo francês Jérôme Bel, entre tantos outros…
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Entendendo que o seu trabalho se dá na relação entre performance e artes plásticas, e sabendo que o seu primeiro trabalho solo intitulava-se Imagem, você poderia falar um pouco sobre a ideia de imagem que surge nesse processo? Ainda uma pergunta encadeada nessa: há alguns anos atrás o artista brasileiro Tunga criou a noção de “instauração”, que foi depois retomada e utilizada por alguns críticos brasileiros. Com essa expressão, Tunga sugeria um outro tipo de relação sujeito-objeto (uma relação fugaz e transitória e, no caso da obra do próprio Tunga, também erótica) situado entre as noções de instalação e performance. Você, que inclusive já participou em performances do próprio Tunga acredita que esse conceito pode servir para uma aproximação ao seu trabalho?
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Sim, acho que sim. Construí a performance Imagem em colaboração com a fotógrafa brasileira Claudia Garcia. Pensar um corpo não capturável, que se expõe em constante reorganização, foi o nosso ponto de partida. Estávamos interessadas em pensar a imagem como algo que não afirma, que não estabiliza. Queríamos falar de uma imagem/corpo vazada e borrada de sensações. Uma imagem precisa, mas de uma precisão cheia de ambiguidades.
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Há um tipo de humor nas suas performances que transporta uma sensação de desamparo e, por isso, se distancia da lógica da ironia, pois não se trata de denunciar algo externo ao corpo que se constitui em cena. Em In-organic, quando surgem as falas, sentimos que você e sua voz também se deixam corroer e afetar pelo humor que elas desprendem. E mesmo quando seu trabalho chega a sinalizar/comentar questões de um real exterior (a banalização da morte, por exemplo), é por dentro que opera, quero dizer, você restitui a interrogação a uma situação transitiva, de algo que está acontecendo ali na cena, e não como um ato retórico que induz a uma resposta imediata. Acho que é nesse ponto que o humor se conecta com uma situação de inacabamento e deixa também o espectador num certo desamparo. Mais do que um modo de criticar o humor cria situações de crise. Você poderia falar sobre essa relação entre humor e crise no seu trabalho?
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Engraçado, sempre achei que faltava humor no meu trabalho... mas desamparo sim, percebo bem. Acho que tem relação com o fato de eu acreditar que somos seres solitários que se falam por uma aproximação que é feita de desvio. Mas vejo essa solidão com muito bons olhos, acho que é justamente essa impossibilidade de união que nos possibilita desejar e falar. Quando construí In-organic, estava interessada em falar, como você citou na sua pergunta, da banalização da morte. Mas não queria discursar sobre isso e nem apontar dedos pra ninguém. Queria uma fala-esboço, inacabada. Pensei, então, em me afundar no que eu estava falando, quero dizer, fazer daquela fala exterior algo íntimo.
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Em In-organic, há algo que parece se acentuar no seu projeto ainda em andamento: uma série de associações disjuntivas que interligam os fragmentos/momentos, sem preencher inteiramente as lacunas entre eles. Nessas lacunas, o espectador pode encontrar um certo incômodo mas também uma possibilidade de desfazer a lógica linear da sucessividade do tempo que se impõe sobre a cena. Tem-se a sensação de que há uma “edição” que, embora seja muito fina, permitiria uma permutação. Essa disjunção não é sinônimo de “falta de unidade”. Existe pra você uma necessidade de “liberação” da sintaxe temporal da cena, ou essa abertura é simplesmente um resultado do seu modo de articulação do corpo em cena?
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A minha matéria de trabalho é o corpo. Penso o corpo como uma zona estranha, ambígua e rugosa. Esse corpo faz (engendra) parte (de) uma situação específica que se desdobra num período (pré) determinado de tempo. Tento, ao articular essas situações, fazer algo que Francis Bacon disse: proporcionar emoções sem o tédio da comunicação.
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Poderia falar um pouco sobre o seu projeto atual e como ele se relaciona com seus projetos anteriores?
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Antes de te colocar algumas perguntas, gostaria que você falasse um pouco sobre a sua trajetória. Você começa trabalhando como intérprete em companhias de dança antes de iniciar seu trabalho solo como performer e coreógrafa independente. Como se deu essa passagem?
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Colaborei durante oito anos (1994 – 2002) com a coreógrafa Lia Rodrigues. Trabalhei na companhia como intérprete/criadora e assistente de direção. Quando realizei meu primeiro projeto, a performance Imagem, eu ainda estava na companhia. Ensaiava inúmeras vezes durante as turnês, em quartos de hotel. Algum tempo depois, deixei a companhia e comecei a investir em projetos próprios e em colaborações temporárias com artistas visuais e outros coreógrafos. Atualmente, colaboro com a coreógrafa portuguesa Vera Mantero e estou desenvolvendo um novo trabalho, um duo, que se chama Em redor do buraco tudo é beira. Portanto, não foi bem uma passagem, pois mesmo dentro da companhia eu já fazia várias coisas. Acho que desde o inicio percebi que não queria me fixar numa posição. Até pouco tempo atrás, me sentia engasgada quando alguém me perguntava sobre a minha profissão. De uns tempos pra cá prefiro alternar as respostas, algumas vezes digo que sou bailarina, outras vezes me apresento como coreógrafa ou performer ou as três coisas, dependendo da situação.
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O escritor Francis Ponge (1899 – 1988) propunha uma poesia tocada pela força de empuxo dos objetos (Le parti pris des choses). Ponge acreditava que para retirar-se da ciranda estéril do humanismo era preciso “se deixar puxar pelos objetos”. Para ele, não se tratava mais de organizar as coisas ao nosso redor para atingir uma harmonia, mas de se deixar desarranjar por elas. Há algo no seu trabalho que parece seguir um impulso semelhante, os objetos funcionando como um furo na redoma de sentidos e de práticas que tendem a delimitar os limites entre sujeito e objeto. Você chegou a criar a expressão “subjetos” para designar esse corpo transitivo, poderia falar um pouco sobre isso?
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Sim, é exatamente isso: “... se deixar puxar pelos objetos”. Quando estou trabalhando, penso em me “submeter” aos objetos e não apenas em manipulá-los, como se fossem algo sobre o qual tenho controle. Busco experimentá-los, um pouco como fazem as crianças. Gosto muito de observar as crianças se movendo, elas têm um estado de momento, ou seja, elas acessam um estado de atenção que se assemelha a certa intensidade dos animais. Diferentemente dos adultos, não estão atravessadas pelas noções de futuro ou passado, simplesmente estão lá, inteiramente instaladas no aqui e agora, assim como os animais e disso surge uma presença completamente fascinante. Acho que as crianças não “fazem coisas”, elas se misturam ao que fazem, elas são o próprio ato. Cada passo é um passo e nada além disso, cada gesto fala do gesto em si. Nunca sei se elas estão jogando com os brinquedos ou se são os brinquedos que estão jogando com elas. É esse tipo de experiência que procuro ativar no meu trabalho com os objetos, uma terceira coisa que não é mais nem o meu corpo nem o objeto em sua autonomia, mas sim um corpo/objeto/sujeito imbricado. Foi dessa prática de trabalho que surgiu a palavra “subjetos”: objetos/sujeitos deslocados e desfuncionalizados.
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Mais do que questões de gênero e de alteridade, o seu trabalho interroga posições de poder atravessadas por paradoxos. Sem deslindar para um relativismo cínico, você parece estar mais interessada em mostrar que cada nó de poder é uma massa de nuances, um núcleo que transporta divergências internas e ambiguidades. Assim também o corpo passa a ser percebido como um solo fissurado, que se dobra por suas próprias contradições, tensões, buracos. Como você situaria o seu trabalho no contexto da performance produzida atualmente? Que performers ou artistas lidam com questões que motivam ou inspiram a sua prática?
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Me interesso por obras que deixam espaço, que abrem buraco, que funcionam como um gatilho liberador de reflexões, afetos e associações. Me interesso por artistas que me põem pra trabalhar. Nessa direção, penso num trabalho-solo da coreógrafa portuguesa Vera Mantero Uma misteriosa coisa disse o e. e. cummings, nas Piezas distinguidas da performer espanhola La Ribot, no espetáculo Nom donné par l'auteur do coreógrafo francês Jérôme Bel, entre tantos outros…
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Entendendo que o seu trabalho se dá na relação entre performance e artes plásticas, e sabendo que o seu primeiro trabalho solo intitulava-se Imagem, você poderia falar um pouco sobre a ideia de imagem que surge nesse processo? Ainda uma pergunta encadeada nessa: há alguns anos atrás o artista brasileiro Tunga criou a noção de “instauração”, que foi depois retomada e utilizada por alguns críticos brasileiros. Com essa expressão, Tunga sugeria um outro tipo de relação sujeito-objeto (uma relação fugaz e transitória e, no caso da obra do próprio Tunga, também erótica) situado entre as noções de instalação e performance. Você, que inclusive já participou em performances do próprio Tunga acredita que esse conceito pode servir para uma aproximação ao seu trabalho?
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Sim, acho que sim. Construí a performance Imagem em colaboração com a fotógrafa brasileira Claudia Garcia. Pensar um corpo não capturável, que se expõe em constante reorganização, foi o nosso ponto de partida. Estávamos interessadas em pensar a imagem como algo que não afirma, que não estabiliza. Queríamos falar de uma imagem/corpo vazada e borrada de sensações. Uma imagem precisa, mas de uma precisão cheia de ambiguidades.
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Há um tipo de humor nas suas performances que transporta uma sensação de desamparo e, por isso, se distancia da lógica da ironia, pois não se trata de denunciar algo externo ao corpo que se constitui em cena. Em In-organic, quando surgem as falas, sentimos que você e sua voz também se deixam corroer e afetar pelo humor que elas desprendem. E mesmo quando seu trabalho chega a sinalizar/comentar questões de um real exterior (a banalização da morte, por exemplo), é por dentro que opera, quero dizer, você restitui a interrogação a uma situação transitiva, de algo que está acontecendo ali na cena, e não como um ato retórico que induz a uma resposta imediata. Acho que é nesse ponto que o humor se conecta com uma situação de inacabamento e deixa também o espectador num certo desamparo. Mais do que um modo de criticar o humor cria situações de crise. Você poderia falar sobre essa relação entre humor e crise no seu trabalho?
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Engraçado, sempre achei que faltava humor no meu trabalho... mas desamparo sim, percebo bem. Acho que tem relação com o fato de eu acreditar que somos seres solitários que se falam por uma aproximação que é feita de desvio. Mas vejo essa solidão com muito bons olhos, acho que é justamente essa impossibilidade de união que nos possibilita desejar e falar. Quando construí In-organic, estava interessada em falar, como você citou na sua pergunta, da banalização da morte. Mas não queria discursar sobre isso e nem apontar dedos pra ninguém. Queria uma fala-esboço, inacabada. Pensei, então, em me afundar no que eu estava falando, quero dizer, fazer daquela fala exterior algo íntimo.
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Em In-organic, há algo que parece se acentuar no seu projeto ainda em andamento: uma série de associações disjuntivas que interligam os fragmentos/momentos, sem preencher inteiramente as lacunas entre eles. Nessas lacunas, o espectador pode encontrar um certo incômodo mas também uma possibilidade de desfazer a lógica linear da sucessividade do tempo que se impõe sobre a cena. Tem-se a sensação de que há uma “edição” que, embora seja muito fina, permitiria uma permutação. Essa disjunção não é sinônimo de “falta de unidade”. Existe pra você uma necessidade de “liberação” da sintaxe temporal da cena, ou essa abertura é simplesmente um resultado do seu modo de articulação do corpo em cena?
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A minha matéria de trabalho é o corpo. Penso o corpo como uma zona estranha, ambígua e rugosa. Esse corpo faz (engendra) parte (de) uma situação específica que se desdobra num período (pré) determinado de tempo. Tento, ao articular essas situações, fazer algo que Francis Bacon disse: proporcionar emoções sem o tédio da comunicação.
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Poderia falar um pouco sobre o seu projeto atual e como ele se relaciona com seus projetos anteriores?
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Estou trabalhando em um duo que se chama Em redor do buraco tudo é beira. Nesse projeto, como nos anteriores, estou interessada no sentido não pacificado, incompleto e transitório das coisas (nas coisas que emergem por entre as coisas). Acho que Em redor... fala de falar sem dizer, de quase falar, de quase entender, de quase. Diferentemente de meus trabalhos anteriores, que se construíam num contínuo desdobrado por associações, quero dizer, uma coisa que dá na outra e por associação em outra e assim por diante, Em redor... se estrutura em pequenos fragmentos autônomos que chamamos de manifestações curtas. Estou interessada nos saltos, nos vazios, nos solavancos que essa estrutura pode engendrar. Acho que tudo isso está ligado ao tal desamparo que você apontou numa de suas perguntas anteriores. É um desamparo desejante de se deixar ir sem saber muito bem pra onde, de ser ver “ido” prazerosamente por alguma coisa. Acho que é isso, procuro também (me) provocar com os meus projetos.
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BIOGRAFIA
Marcela Levi (1973, Rio de Janeiro) é performer e coreógrafa. Formou-se pela escola de Dança Angel Vianna; foi membro da Lia Rodrigues companhia de Danças durante oito anos. Em 2002 começou a desenvolver projetos solos que se situam entre a dança contemporânea e as artes visuais. Seus trabalhos vêm sendo apresentados em festivais e centros de arte de vários países da América Latina e da Europa. Paralelamente, colabora com os coreógrafos Vera Mantero, Dani Lima, Cristina Moura, Gustavo Ciríaco e com os fotógrafos Claudia Garcia e Manuel Vason. Em 2006 recebeu a bolsa do centro de intercâmbio Le Recollets (França) e o Prêmio Klauss Vianna de Dança. Em 2007 foi contemplada com o Programa Rumos Itaú Cultural Dança. Em 2008 junto com Flavia Meireles, participou do programa Artistas en Residencia – La Casa Encendida e Universidad de Alcalá de Henares (Alcalá de Henares – Madrid). Atualmente Marcela desenvolve o projeto em redor do buraco tudo é beira, contemplado pela Fundação Nacional de Artes - Funarte - no Programa de Bolsas de Estímulo à Criação Artística, em colaboração com a bailarina Flavia Meireles e a artista visual Laura Erber.
Marcela Levi (1973, Rio de Janeiro) é performer e coreógrafa. Formou-se pela escola de Dança Angel Vianna; foi membro da Lia Rodrigues companhia de Danças durante oito anos. Em 2002 começou a desenvolver projetos solos que se situam entre a dança contemporânea e as artes visuais. Seus trabalhos vêm sendo apresentados em festivais e centros de arte de vários países da América Latina e da Europa. Paralelamente, colabora com os coreógrafos Vera Mantero, Dani Lima, Cristina Moura, Gustavo Ciríaco e com os fotógrafos Claudia Garcia e Manuel Vason. Em 2006 recebeu a bolsa do centro de intercâmbio Le Recollets (França) e o Prêmio Klauss Vianna de Dança. Em 2007 foi contemplada com o Programa Rumos Itaú Cultural Dança. Em 2008 junto com Flavia Meireles, participou do programa Artistas en Residencia – La Casa Encendida e Universidad de Alcalá de Henares (Alcalá de Henares – Madrid). Atualmente Marcela desenvolve o projeto em redor do buraco tudo é beira, contemplado pela Fundação Nacional de Artes - Funarte - no Programa de Bolsas de Estímulo à Criação Artística, em colaboração com a bailarina Flavia Meireles e a artista visual Laura Erber.
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Um comentário:
mto interessante, a entrevista! parabéns!
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