segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Um verão, poema de João Lima

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Na sala de jantar
confraternizavam-se os estômagos:
resíduos de vida miúda nos talheres e nos
dentes amarelos
nos palavrões, nos cigarros.
(Os restos ao pobre cão faminto
ao voo das moscas
ao piquenique das formigas.)
No quarto, num espelho trincado
a ânsia procura um branco fio de cabelo
solitário que seja. No quarto,
o tempo adoece.
Não obstante,
nele consebe-se.
Nas paredes que um aríete ou temporal
podem talvez derrubar,
ecoam vozes.
Fala-se dos vizinhos, dos parentes mortos
do mau cheiro vindo do banheiro
de coisas do além, discos voadores
da triste e dolorosa mudança
que se dá no corpo de fulana.
Resolve-se passar o domingo
no litoral: comer frutos do mar com coca-cola.
Na rua, as folhas bricam
de ser pé-de-vento.
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João Lima
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2 comentários:

Tânia Tiburzio (TT) disse...

Muito bonito. Parabéns!

Bruno de Abreu disse...

adorei a força poética do joão lima. muito bonito mesmo! não há algum endereço eletrônico, além do plástico bolha, pra conhecer mais de sua poesia?