segunda-feira, 4 de julho de 2011

do fim e do início, do dez e do onze


se cheguei aqui, não sei por onde comecei. o centro da cidade não me leva a lugar nenhum: passar por ele é mero acaso. é como que topando com joaninhas. pode ser sorte, pode ser azar. à margem, à margem, à margem? talvez a margem do la plata, e só. as orillas do cortázar não andaram comigo, tão pouco vieram pra casa. de lá, observei as meninas de 35 passando, passando, passando como o vento. não quis muita conversa, hesitei, olhei para os lados e, quando ninguém mais me fitava, virei para elas e gritei “me mandem um postal falso dessa cidade arrependida”. o depois ninguém quer saber. os olhares estão comigo e camuflados entre letras tortas de uma mente fugidia. e parece que só olhares: buenos aires não tem voz, não tem música, não tem ruído. e eu grito, eu grito, eu grito. uma cidade quase destruída por sua loucura. não é américa, não é milão: é orilla, orilla, orilla. buenos aires, mi terra querida, gardel te predestinou um futuro trágico, melancólico e doído. e troco tudo isso por um miles davis tranquilizante, mas cheio de sobressaltos. so what? minha paradinha foi, sim, estratégica. queria tanto falar. mas o jazz sem voz é sempre mais agradável. jazz, vinho e fumaça: a combinação ainda não está perfeita. procuro o doce e o amargo da cerveja. troco um, pelo outro e vou trocando de acordo com a música que toca. caminho pelas ruas transladadas da cidade não-proviciana que me oferece bugigangas, camelôs e flores, muitas flores. visto as quinquilharias e penduricalhos como se eu fosse um museu de tudo e carrego a cidade aconchegada em bolsos vazios e olhares cheios. procuro clarissa pelas ruas arborizadas e a vejo no calçadão da florida, claro, calma e feliz. buenos aires é isso, um pequeno buquê de flores barato: de vida curta sem ser pequena.

Renata Gomes


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