segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Ele já não chora mais


No alto da cidade perdida se encontra.
...onde os carros correm como se o tempo não existisse.
Pessoas apressadas esbarram-se por um sopro de ar
Por uma brisa que os façam respirar...
Na angustia do relógio que bate o ponteiro
E o martelo do homem que trabalha fere o prego...
a mulher suporta a sua dor de cabeça crônica.
Não escutaram a criança chorar.
Nem viram o mendigo pedir um pedaço de resto de pão velho.
Caminharam todos atrás do tempo e da vida que segue quietinha ao lado, sem pedir por favor.
Uma gota de lágrima cai do alto do prédio.
Sirenes interrompem a enfurecida rua. Em um vai e vem coordenadamente descoordenado.
O sol queima as cabeças até daqueles que usam chapéu. Que ironia, se proteger tanto.
O carro bateu.
O guarda mandou as pessoas seguirem sem dar atenção. Quantos morreram? – Perguntou a senhora com o cachorro.
E a criança engole o choro, sem atenção, ela cresceu já não é mais criança.
As janelas se fecham tentando impedir que a cidade entre.
Na cidade começa a chover, guarda chuvas abertos, ninguém pode se molhar.
A vida é dura de mais para estar molhado – disse um com pressa.
No alto o homem chora soluçante na cidade que não lhe pertence mais
Chora o homem como criança novamente.
Escuta o som dos passarinhos que avista no prédio ao lado.
E enxerga o mar distante, se refresca com o vento que supõe vir de lá.
O prédio fica pra trás, seus pés flutuam no ar.
O vento o carrega como uma dança, uma grande valsa, alegra-se em pensar como um bailarino. Um grande e famoso bailarino.
Ele agora sorri apenas.
Ele já não chora mais.

Rafael Rodrigues

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