Ela ia para o Brooklyn. Na
América do Norte. Mais precisamente, Manhattan. Chegara havia uns poucos dias.
Pegou o ônibus turístico, vermelho, para mapear a cidade e depois visitaria com
mais vagar os pontos que mais lhe agradassem. Desceu num quase ponto final. Era
ali, lhe informaram. Depois da praça, teria que dobrar à esquerda, caminharia
mais uns tantos metros; do píer, o barco chegaria logo ao destino. Era só
cruzar o Rio East. Desceu do ônibus, andava bem rápido para sobrar-lhe um tempo
maior para o passeio, o almoço e ainda voltar e assistir ao show de rock no
Central Park.
Ela virou à esquerda, mas de
cabeça para baixo! Uma multidão de ninguéns! Uma tristeza, aliás, angústia da
mais pura. Sentiu um cheiro abstrato, inexplicável, vãos e espaços, alturas
descomunais, Calatrava, o prédio adotado à sua frente, filhote do World Trade
Center depois daquilo tudo!
O indizível com duas piscinas com
águas infinitas e um ralo, melhor, um ralão dentro delas onde escorriam
infinitamente dor, corpos, memórias, gentes, muitas gentes queimadas e agora
suas almas na água para alívio dos céus.
Escoamento de vidas perdidas, ou
lavagem de memória, ou apagando o fogo tardiamente, ou água das bombas dos
bombeiros que não deram conta do ódio, da crueldade desse mundo seco de amor! Nomes
possíveis daquilo!
Não foi ao Brooklyn. Ficou um
número de horas, um tempo incomensurável nessa inércia, paralisada observando,
no museu ao lado, fotos das pessoas bem pequenininhas que caíam pelas janelas!
Rosália Milsztajn
Rosália Milsztajn
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