Todos os dias caminho no calçadão. Sempre muito
cedo. Só consigo manter a decisão (minha) e a promessa (ao médico), se bato a
porta logo que o sol aparece.
Somos uma turma pequena, quase sempre as mesmas
pessoas que surgem das ruas perpendiculares à praia e andam de lá para cá, indo
emboraquando chegam as babás e os bebês, as enfermeiras e os velhinhos sedentos
de sol.
Foi na semana passada. Parei para tomar uma água de
coco, e vi a mulher que ia na direção do Arpoador. A posseira de um território
ainda desabitado.
A claridade me cegava, mas me pareceu uma mulher de
meia-idade, com um duas-peças discreto, um chapelão exagerado para o horário.
Num exercício de imaginação, criei uma personagem. Uma
mãe de família louca por um mergulho antes de enfrentar o tanque e o fogão? Uma
executiva que aproveitava para se revigorar para inúmeras e inúteis reuniões?
Uma professora que ia encarar alunos malcriados e rebeldes?
Não sei. Mas conto que, na manhã de sol acanhado, a
mulher na praia deixou o chapéu na areia, tirou o soutien e mergulhou no mar
azul. Um topless sem plateia.
O mergulho foi rápido. Eu ainda estava no quiosque
quando ela saiu da água. Sacudiu o cabelo, vestiu de novo o soutien e voltou
para o final do Leblon.
Naquela manhã, a mulher na praia se fez sereia. Uma
sereia carioca.
Marilena Moraes
2 comentários:
Maravilhoso! Adorei!
Maravilhoso! Adorei!
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