Todo
dia quando acordo vou tomar um café no bar da esquina. Sempre um expresso
duplo, daqueles de máquinas. É a primeira coisa que faço quando o dia começa, e
só é um bom dia se eu tomar meu café.
Acontece
que nesse bar que, como a poetisa Matilde Campilho chamou de “padaria fétida
onde os notívagos encontram sua última dose”...isto é, quando, às 6 da manhã a
padaria-bar abre as portas, os notívagos se encontram com os madrugadores, os
que acordam cedo, e fazem a fila pra comer seu pão na chapa enquanto que os
notívagos viram sua última gota de álcool que encontram entre o último bar que
fechou e o primeiro a abrir as portas...
Nessa
padaria fétida o primeiro a abrir as portas é Seu Antônio. Acho que Seu Antônio
é português. Ele não fala muito. Pelo menos, não que os outros escutem...acho
que fala de si para si.
Foi
numa dessas madrugadas que reparei numa coisa. Se alguém chega muito agitado no
bar, dando bom dia para todos numa alegria um pouco desmedida, como se fosse
bom acordar três e meia pra trabalhar no calor de uma padaria do outro lado do
mundo, Seu Antônio serve o café com uma resposta sussurrada: um simples,
verdadeiro, e quase inaudível “vai tomar no cu”!
Bernardo Sá Earp
Bernardo Sá Earp é artista visual e está iniciando
seu caminho na escrita. Estudou Filosofia na PUC-Rio e viu o Plástico Bolha
nascer.
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