POEMARÇO, a festa
A literatura, talvez por estar tão atenta ao presente, pode até adivinhar o futuro. E, assim, a pessoa que faz poesia é uma anunciadora dos tempos. Na cosmologia iorubá o orixá Exu é o instaurador de agoras. A ialorixá Stella de Oxóssi disse certa vez: “Exu quer só estar se movimentando, fazendo tic, tic, tic no ouvido dos outros”.
Se pensamos a/o poeta como quem inaugura agoras, esse tic, tic que ela/ele produz em nossos ouvidos são os chiados do nosso tempo. Poemarço existe para celebrar a poesia. Para celebrar a vida das pessoas que trabalham essa linguagem nos anunciando esperanças, delatando crimes, expondo feridas, sussurrando amor. Esse movimento de agoras é poesia e merece ser festejado.
Entre outras coisas, a arte é uma elaboração estética das linguagens em associação com uma compreensão política do mundo. E essa primeira edição de Poemarço é virtual por atenção ao nosso tempo. Vivemos no Brasil uma pandemia. Os movimentos para sair dessa situação são mínimos. Este evento acontece como uma cena artística que deseja ofertar vida em meio a esse caos. A arte pode oferecer, quiçá, algum breve equilíbrio ao mundo. É nesse mortal mundo pandêmico que Poemarço acontecerá como um lugar de encontros e trocas de vida.
É na poesia concreta, na poesia experimental, na poesia oral que buscamos inspiração para compor nosso evento. O poeta baiano Almandrade é o homenageado da festa. Os títulos das mesas, com poetas, tradutoras, tradutores, editoras e editores, os títulos das apresentações de poesia visual e das gravações de poemas, do sarau e da conferência de abertura são versos ou referências, e até mesmo títulos de livros dos poetas Augusto de Campos, Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Gilberto Gil e da poeta Stela do Patrocínio.
As poetas e os poetas que participam dessas mesas e apresentações não têm necessariamente relações estéticas com essas e esses autores. A proposta do evento é exatamente estabelecer trocas e privilegiar a diversidade.
Poemarço se sustenta como uma festa atenta a discussões de gênero e raça e da presença e visibilidade de pessoas e de temáticas LGBTQIA+. Da festa participam mais de 40 poetas. Desse número, 75% são mulheres indígenas, brancas, e as negras são a maioria. Pensamos Poemarço como uma festa atenta a complexidade e diversidade das definições identitárias no Brasil. E que estabelece diálogos com a produção contemporânea de países de língua portuguesa, como Moçambique e Portugal. Do Brasil temos convidadas do Ceará, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Santa Catarina, Paraíba, São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Com mesas de conversa, oficinas, videopoemas e sarau, Poemarço oferece cinco dias intensos de encontros com a palavra, nossa grande homenageada.
A festa tem apoio financeiro da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia e da Fundação Pedro Calmon (Programa Aldir Blanc Bahia) através Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.
Luciany Aparecida e Mariângela Nogueira (Curadoras)
Mais em: www.poemarco.com
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