“De meu padrasto
lembro o gosto
Colher, isqueiro,
pedra, agulha
De minha mãe o
sangue exposto...
E um fluido branco
que borbulha,
Na vida eu creio, na
virtude,
Feitos do escárnio
deste mundo
Mas como a vida nos
ilude!
Ferem, mas quietam o
Eu mais fundo...
Fugi de casa, fui
surrada
Os dedos fortes, mas
tremendo
Porque, bem, sempre
fui ousada...
Uma seringa vão
enchendo...
Mas tudo passa, e eu
logo esqueço
E pouco a pouco o
vidro aviva...
Que a morte é só
um recomeço!...
Por ter o braço em
carne viva,
Garoto, a dor, se é
grande, some;
Encontra um canto em
seu pescoço,
Sei que perdi meu
próprio nome,
Onde se fura, num
caroço,
Mas me arde, da
época de criança,
Ali, no meio dos
inchaços,
Uma sagaz
perseverança...
Dobrando o cotovelo
em laços,
Necessidade, e o meu
vazio,
Se dá ao fluido da
seringa...
São por que aos
clientes só sorrio...
Bem sob o queixo,
então respinga
Olha, eu nem sonho,
nem escolho,
Seu sangue, como o
meu, vermelho,
Mas quando canso me
recolho!
Que escorra, ruim,
até seu joelho!
Eu sei que me acham
vagabunda,
E a perna, um tanto
amolecida,
Carne passada, de
segunda...
Arqueia, trôpega e
sem vida...
O mal, lembranças e
o abandono
Suas palavras já
confusas
Se vão conforme vem
o sono!
Se erguem como entre
exaustas musas...
Prefiro no êxtase
as flebites
O seu torpor lhe
leva ao chão,
Do que me atar a
meus limites!
E ela descansa o
coração...
Não sou vilã...
nem sou Iansã...
Vai balbuciando a
tal pequena
Não sou Iansã...
nem sou vilã...”
- Por isso a vida
vale a pena,
E tu, ó minha fiel
menina,
Cais como toda boa
heroína!
Guilherme Ottoni
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