terça-feira, 4 de maio de 2010

Peixinhos

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Que dia triste. Sonhei que ganhava um casal de peixes. Peixes pretos escuros. Nunca tive peixes nem sonhava como cuidá-los. Mas disseram que estes peixinhos eram simples, peixes de poça, só precisavam de um pouco d’água. Coloquei-os em uma bacia transparente. E coloquei uma planta. E estava começando a admirar a pequena beleza dos peixes pretos e escuros na bacia. Não levo mais que um minuto para começar a adorá-los. E chamo alguém para ver, pensando – ter peixes! Mesmo que sejam estes peixes pretos... escuros. E num apuro, como quem quer demonstrar amor por alguém que já se sabe amado, por um exagero, ou simplesmente porque sempre tive as mãos desajeitadas, resolvi tirar um pouco da água do aquário. Afinal, eram peixes de poça. Não sei como soube que morreu, olho de peixe morto é que não tinha. O peixe preto coloriu-se todo. De vermelho, verde, azul. O peixe morto embelezou-se, do preto do dia-a-dia, agora morto, encheu-se de cores. Para que nós, os vivos, soubéssemos. E foi assim, por esta estranha lógica, que soube, entendi, que quando peixe preto e escuro se apruma e colore, se faz visto, é que morreu.
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Beatriz Bastos
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Beatriz Bastos é autora de quatro livros. Esse aqui vem do recente "Da Ilha", da Editacuja
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