domingo, 8 de abril de 2018

À margem do douro, poema inédito de Paulo Henriques Britto



Não espero nada, e já me satisfaço
com a consciência de ainda estar em mim
e não de volta ao nada de onde vim.
Por ora, ao menos, ainda ocupo espaço,
junto a uma mesa no Cais da Ribeira;
permito-me, sem culpa, desfrutar
de pão, e queijo, e vinho, e vista, e ar,
todo o entorno da minha cadeira.
Que os dias que me restam não me tragam
apenas a miséria de contá-los
pra ao fim ver que as contas não fecham. Peço
demais? Eu, que não sou desses que tragam
a vida num só gole e no gargalo,
sem ter nem mesmo perguntado o preço.

Paulo Henriques Britto



Paulo Henriques Britto, é professor da PUC-Rio e um dos maiores tradutores e poetas atuais do Brasil. Irá lançar seu próximo livro, que está com o título provisório de "Nenhum mistério", no segundo semestre deste ano.

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