VI. A procura da poesia
Não adules o poema. Aceita-ocomo ele aceitará sua forma definitiva e concentradano espaço.Chega mais perto e contempla as palavras.Cada umatem mil faces secretas sob a face neutrae te pergunta, sem interesse pela resposta,pobre ou terrível que lhe deres:Trouxeste a chave?
O poeta municipaldiscute com o poeta estadualqual deles é capaz de bater o poeta federal.Enquanto isso o poeta federaltira ouro do nariz.
A última categoria, Tentativa de Exploração e de Interpretação do Estar-no-mundo, se encarrega, segundo o próprio autor, de uma visão, ou tentativa de, da existência (DRUMMOND, 1962). Essa categoria é composta por poemas que propõem uma reflexão em cima do ato de se estar no mundo e o sentido da vida e do ser humano. Textos Cantiga de Enganar, Rola Mundo e Tristeza no Céu se debruçam sobre a existência com forte angústia e melancolia. Vide o fragmento de Composição:
Onde vivemos é água. O sono, úmido,em urnas desoladas. Já se entornam,fungidas, na corrente, as coisas carasque eram pura delícia, hoje carvão.O mais é barro, sem esperança de escultura.
Partindo, em diversos momentos, de um ponto de vista subjetivo, o autor se propôs a se debruçar sobre as diversas formas de existência. Evidencia-se novamente o eu inquieto de Drummond, que permeia toda sua poesia. Trata-se, portanto, de uma sessão dedicada a indagar-se sobre o existir e sobre a vida, seja ele presente, em dissolução (como no poema A Um Hotel em Demolição) ou em transformação (visto na produção Resíduo). Exemplifica-se no poema Cerâmica:
Os cacos da vida, colados, formam uma estranha xícara.
Sem uso,
Ela nos espia do aparador.
Luisa Issa
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