esta noite sonhei que corria
em um vasto jardim de tulipas
era um cenário sinuoso e soturno
como são sempre os jardins livres
eram flores de silhuetas enganosas
e vestidas com as cores da derrota as
nossas derrotas que de tão ordinárias
formam quadros quentes surrealistas
ali me sentia em casa era um campo como
uma cidade uma cidade como um crime
tantos crimes todos suculentos e macios
era um segredo doce por detrás dos dentes
mas era também ou sobretudo a cova rasa
das bestas e beatos banguelas que foram
tantos guerreiros esmagados pelo Tempo
pois contra o Tempo não se ganha nunca
e havia algo entre calor e desejo no ar
um bafo santo que sopra sempre e sempre
adiante mesmo que exista medo ou saudade
no fim é a mesma coisa eu estou tremendo
penso agora em você e já está chovendo
os jardins são campos de batalha adormecidos
as tulipas são demônios de pernas curtas
e o céu é um abismo esfomeado chamando
amanhã talvez uma pérola se realoje no meu
ventrículo e eu reencontre a pulsão pela qual
uma veia não será nunca apenas uma viela por
onde se bombeia a cor que vale a potência da vida
admiro o brilho nos olhos dos que estão sempre
prontos para as grandes guerras que se demoram
e por mais sinistro que isso possa parecer
acreditem eu ainda estou falando de amor
Kiki
Kiki
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