O que vou dizer quando me perguntarem quanto vale a palavra proferida por uma boca falaz e ambígua, mesmo que seja minha a boca?
"Não se fie no que diz a língua maldita. Não dê valor a coisa tão vã e infeliz. O ínfimo do infinito se fala, mas o que se versifica é aquilo que mais diz."
Fui
acampar neste último feriado. Na barraca ao meu lado do camping
tinha um pai com seu filho de 14 anos.
A
dupla era simpática, educada, gente fina. O coroa me disse que era a
segunda vez dos dois naquela praia. E notei o carinho dele com o
garoto. O apreço que ele tinha por ensinar coisas valiosas ao seu
“filhão”, como ele o tratava.
Não
fiquei prestando muita atenção no conteúdo, mas fiquei imaginando
o que eu falaria pra um moleque que um dia eu possa vir a chamar de
filho. Ou filhão.
Falaria
pra ele deixar o celular de lado e olhar um pouco o céu. Dar um
mergulho, uma corrida, jogar uma altinha, trocar ideia com
alguém.
Falaria
para ele que as coisas custam dinheiro, normalmente não são baratas
e que o presente momento é fruto do trabalho duro.
Falaria
que tudo bem ele pintar o cabelo de roxo. Azul. Verde. Laranja.
Porque o tempo passa, a cor vai embora, a vida acontece, novas cores
aparecem e dá sempre pra colocar algo novo na cabeça.
Falaria
pra ele que a vida não é fácil, mas que pode ser mais
simples.
Falaria
que o amor é complicado. Porque às vezes a pessoa não te ama de
volta. E às vezes mesmo que ame, o amor não é suficiente.
Falaria
que sentir alguns sentimentos é doloroso. Mas que outros são
gostosos demais de experimentar.
Mas
que amar é bom. Sempre bom, mesmo quando parece ruim.
E
tudo isso entraria por um ouvido e sairia pelo outro.
Publicação de poesia e prosa de autores contemporâneos, ensaios, crônicas, entrevistas, divulgação de eventos e notícias. Se você ainda não conhece o jornal impresso, esta será sua porta de entrada. Se já conhece, então sinta-se em casa: bem-vindo ao mundo do Plástico Bolha!
(os comentários são moderados, por isso não aparecem automaticamente, mas aparecem!)