sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Pixo, de Iuri Mello


O livro dos hieróglifos
se abre
nas sacadas altas regulares
como textos cuneiformes
runas, escrita disforme
nomes mágicos
que só é dado a ler
aos iniciados
culto rupestre de jovens calado
marcam seus nomes
no templo de asfalto


Iuri Mello

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Um poema de Roberta Lahmeyer


    Quando a poesia
atravessa a matéria e ilumina
    certos subterrâneos


Roberta Lahmeyer

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Para vovó, de Guilherme Ottoni


''_Vocês são_...'' - li-te, em meu primeiro verso -
Logo teu papo, qual de sapos-bois,
Tua risada, de um amor perverso,
Me advertiram: ''Um poeta põe _vós sois_!''

Posso ser o teu único reverso,
Aquele que buscou vadiar depois
De cair ao teu rigor incontroverso
Num poema onde negamos a nós dois!

Fossem outras as tuas mil certezas
E das minhas ridículas fraquezas
Sirvam a amorfa cinza do teu pó!

Mas hoje, escrevo tudo que me ulcera,
Muito apesar da tua luz severa,
Que se ora brilha, brilha aqui tão-só!


Guilherme Ottoni

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

E POR FALAR EM AMOR


Sebastião e Lourdes estavam casados
há exatos 27 anos. Amor? Não,
pirraça mesmo.


Daniel Viana

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Poeminha de Rodrigo de Souza Leão


será que eu sou tão claro
claralho


Rodrigo de Souza Leão

domingo, 2 de fevereiro de 2025

Confidências Líricas


O que vou dizer
quando me perguntarem 
quanto vale a palavra proferida
por uma boca falaz e ambígua,
mesmo que seja minha  a boca?

"Não se fie no que diz a língua maldita.
Não dê valor a coisa tão vã e infeliz.
O ínfimo do infinito se fala,
mas o que se versifica
é aquilo que mais diz."


Thais Vicente

sábado, 1 de fevereiro de 2025

Os pais devem seguir tentando, novo texto de Eduardo Moraes

Fui acampar neste último feriado. Na barraca ao meu lado do camping tinha um pai com seu filho de 14 anos. 


A dupla era simpática, educada, gente fina. O coroa me disse que era a segunda vez dos dois naquela praia. E notei o carinho dele com o garoto. O apreço que ele tinha por ensinar coisas valiosas ao seu “filhão”, como ele o tratava.

Não fiquei prestando muita atenção no conteúdo, mas fiquei imaginando o que eu falaria pra um moleque que um dia eu possa vir a chamar de filho. Ou filhão.

Falaria pra ele deixar o celular de lado e olhar um pouco o céu. Dar um mergulho, uma corrida, jogar uma altinha, trocar ideia com alguém.

Falaria para ele que as coisas custam dinheiro, normalmente não são baratas e que o presente momento é fruto do trabalho duro.

Falaria que tudo bem ele pintar o cabelo de roxo. Azul. Verde. Laranja. Porque o tempo passa, a cor vai embora, a vida acontece, novas cores aparecem e dá sempre pra colocar algo novo na cabeça.

Falaria pra ele que a vida não é fácil, mas que pode ser mais simples.

Falaria que o amor é complicado. Porque às vezes a pessoa não te ama de volta. E às vezes mesmo que ame, o amor não é suficiente.

Falaria que sentir alguns sentimentos é doloroso. Mas que outros são gostosos demais de experimentar.

Mas que amar é bom. Sempre bom, mesmo quando parece ruim.

E tudo isso entraria por um ouvido e sairia pelo outro.

Os pais tentam. E vão (e devem) seguir tentando.


Eduardo Moraes

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Ópera de pássaros

 
A objetividade de fotografia é uma falácia.
Erra quem acha que ela retrata o real.
O que há é que quando o fotógrafo diz:
— olha o passarinho!!
Uma ave de asas oblongas sai de dentro da câmera
com uma paleta de cores e um embornal de pinceizinhos.
Sobrevoa a cabeça do fotógrafo... sobrevoa a cabeça do fotógrafo
e de lá, pinta a cena.
Em suma, a fotografia é uma ópera de pássaros.


Chacal

sábado, 4 de janeiro de 2025

prova real

no final das contas
se não tiver escapado
por entre os dedos
não podia ser mesmo
o que se estava
procurando

Lucas Viriato