quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O primeiro poeta

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Qual foi a primeira palavra proferida? Imagino o primeiro homem, ainda meio macaco, tentando exprimir algo completamente novo, que os grunhidos habituais simplesmente não conseguiam alcançar. Dirão todos que hoje vivemos uma peste da linguagem, uma fragmentação completa em que as palavras não têm mais significado e em que cada discurso, cada conceito, cada Deus e cada sujeito devem ser desconstruídos e esmagados com um martelo. Mas esquecem-se eles desse primeiro marco, desse anseio inaugural pela unidade. Em que modulação sonora diferenciou-se ele dos outros? Era “ele” um homem ou uma mulher? O que pretendia ele dizer? Pretendia ele descrever uma visão? Ou um pensamento? Ou um sabor que seus companheiros desconheciam completamente? Será que queria conquistar uma parceira disputada? Ou dar um conselho a seu filhote, ainda no colo? Queria ele falar do passado, do presente ou do futuro? Ou quem sabe dos três, de algo eterno e além do tempo e do espaço? Será que, como Narciso, foi a perplexidade ante a sua própria imagem? Ou, como Arquimedes, queria ele anunciar uma nova descoberta? Ou ainda, como Hamlet, questionava ele a validade das suas próprias ações? Terá sido a percepção da nossa pequenez diante de um universo indiferente? Ou algo tão mais simples quanto a percepção da beleza das coisas em seus mínimos detalhes? Será que ele se deu conta de sua invenção? Ou era somente algo que necessitava para falar de uma dor completamente inédita e insuportável, cujos desdobramentos e complexidade seus companheiros jamais poderiam reconhecer: a dor solitária de ser, pela primeira vez, humano. Mais do que o primeiro ser humano, este foi o primeiro poeta.
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Um comentário:

Gabis disse...

Nossa, amei!

Vou ficar viajando agora, pensando qual necessidade precisava ser expressada...

Descobri o jornal, vim para o blog: agora virei fã, vou visitar sempre que puder! =)