Acordei naquele dia sem lembrar de nada do dia anterior. Caminhei até a sala. Vi minha mãe por sobre um monte de papeis de bala rasgados, bolas estouradas e doces pisoteados. Sua leveza me encantava. Era linda minha mãe. Dedicada e carinhosa. Pensou em todos os detalhes. Não hesitara em acordar cedo e limpar a sujeira que mais um ano da minha vida, que se arrastava, fazia em sua sala pequena. Estava tudo desarrumado e as coisas fora do seu lugar. Voltei meu olhar para o quarto, e meu pai ainda estava esparramado na cama. Olhei as fotos da noite passada por sobre a mesa. E chorei. Não consegui engolir o choro. Minha mãe encostou a vassoura na parede e alisou os meus cabelos, suave. Chorei de soluçar. Tentei respirar fundo para que o descontrole não rasgasse o silêncio da manhã. Mas meu pai despertou. Caminhou em minha direção. E me deu um tapa. Bem forte. A raiva que me atravessou o estômago não podia mais mudar a fotografia que eu tinha na mão. Ele seria para sempre a pessoa que ganhou o primeiro pedaço do meu bolo de aniversário.
.Paulo Henrique Motta
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3 comentários:
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abs do Paulinho Motta
Nossa! Adorei o texto! Muito profundo, de uma sensibilidade imensa! Parabéns!
Sei bem como é... Intenso, sempre.
Da primeira maiúscula ao ponto final.
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