quarta-feira, 29 de setembro de 2010

TRANSBORDAMENTO — um poema de Roberto Corrêa dos Santos

.
para o amigo Alberto Pucheu
.
Não, não sai do poço a ideia.
Sábado, novembro, mil novecentos e noventa e cinco, morre, morre Deleuze.
Não, não se rompem o saber ou o movimento.
Seguem curvas os surfistas.
Doubles de interiores e exteriores.
Twistes e carnes para além dos corpos.
Ondas já antes e antes, e entre.
Deixar-se por elas agarrar-se.
Ido o mestre do surfe e do oceano, surfam aqueles sob o sol.
Face aos jovens em águas, ansiedade leve e júbilo.
Matéria e ritmo, outra maneira de pensar ali.
Frente a eles, disse o Surfeur, a filosofia está em causa.
Então porque esteve o rosto sorridente e a voz rouca, soube, de imediato soube.
Uma profundidade real na face sob ventos.
Correspondências há.
Que escrevam os que surfam.
Valham-se da arte dessa resistência.
Uma saúde precária naquele quase fim de hora? Não.
Ondas de Aquitânia tocam o apartamento em Paris.
Alguns números de Surf Session, Surfer's Journal .
Deluze lê e ri.
A cama do hospital navega.
Sonha-se com as velocidades por sobre azuis e verdes líquidos.
Tombam os organismos, jamais a vida.
E um homem, maravilhosamente exagerado na imanência do mundo, dorme.
Ondas e páginas, ondas em páginas.
.
Roberto Corrêa dos Santos
.

Nenhum comentário: