sábado, 25 de setembro de 2010

A pequena chama — poema de Juana de Ibarbourou traduzido por Miguel Del Castillo

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Eu sinto um amor selvagem pela luz.
Cada pequena chama me encanta e me ultrapassa.
Não é cada lume um cálice que conduz
O calor das almas que encontra em sua jornada?

Algumas são pequenas, azuis, tremelicantes,
Iguais às almas taciturnas e bondosas.
Outras são quase brancas: lírios fulgurantes.
Outras, quase vermelhas: espíritos de rosas.

Respeito e adoro a luz como se fosse inteira
Uma coisa viva, que sente, que medita,
Um ser que nos contempla, transformado em fogueira.

Assim, quando morrer, hei de ser, a seu lado,
Uma pequena chama de doçura infinita

Em suas noites longas de amante desolado.
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Juana de Ibarbourou
("La pequeña llama", in Lenguas de diamante. Montevidéu, 1919.)
Tradução de Miguel Del Castillo
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Juana de Ibarbourou (1892-1979) foi uma poeta uruguaia incrível. Começou a publicar seus poemas apenas com 16 anos de idade, antes de se começar a falar em modernismo aqui na América do Sul. Embora sua poesia seja composta de sonetos, versos com métrica e rimados, Juana influenciou muito sua geração e seus sucessores, não apenas no Uruguai, mas em todo continente e na Espanha. O desnudamento sincero da alma — muito além de fórmulas prontas e pastelões — impressiona, ainda mais vindo de uma mulher naquela sociedade. Suas obras completas já foram editadas três vezes na Espanha pela Aguilar, e ainda assim Juana nunca foi traduzida no Brasil. Abaixo, o soneto original:
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La pequeña llama

Yo siento por la luz un amor de salvaje.
Cada pequeña llama me encanta y sobrecoge.
No será, cada lumbre, un cáliz que recoge
El calor de las almas que pasan en su viaje?

Hay unas pequeñitas, azules, temblorosas,
Lo mismo que las almas taciturnas y buenas.
Hay otras casi blancas: fulgores de azucenas.
Hay otras casi rojas: espíritus de rosas.

Yo respecto y adoro la luz como si fuera
Una cosa que vive, que siente, que medita,
Un ser que nos contempla transformado en hoguera.

Así, cuando yo muera, he de ser a tu lado,
Una pequeña llama de dulzura infinita
Para tus largas noches de amante desolado
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