O lançamento do livro acontece em
São Paulo, na Livraria Patuscada, em Pinheiros, no dia 18 de agosto, a partir
das 19:00. Também será lançado em Luminárias, no interior de Minas, na Casa da Cultura, no
dia 20 de agosto, a partir das 17hs.
Título: “Paisagem interior”,
contos
Editora: Penalux
Autor: Marcos Vinícius Almeida
Páginas: 110 páginas,
Preço: R$ 35
Disponível em:
Paisagem interior
Marcos Vinícius Almeida
Por Annita Costa Malufe
Este conjunto de contos parece
contradizer certas ideias frequentes em nosso tempo:todas as histórias já foram
contadas, não há mais espaço para se narrar, estamos fadados a narrativas
fragmentadas, a fatos que perderam qualquer sentido comunitário (como
primeiramente previu, talvez, Walter Benjamin)... Ainda bem que, vez por outra,
alguns escritores não se conformam com isso e retomam o hábito ancestral da
narrativa, devolvendo-nos, renovado, o prazer da simples escuta de uma
história.
No caso dos narradores deste
Paisagem interior, a proximidade do tom do contador de causos: figura típica
dos interiores de nosso país, sobretudo de Minas Gerais, de onde vem o autor. O
contar por contar, pelo mero prazer de desenrolar uma história, muitas vezes
apelando a detalhes insignificantes, seguindo sempre o andamento da fala. A
oralidade se faz forte nessa escrita, e o leitor se põe de fato a ouvir o
texto, que se transforma em um fluxo oral extremamente fluente e bem construído
– muitas vezes a partir de um competente uso do discurso indireto livre.
Tal traço não indica, contudo, um
parentesco direto com Guimarães Rosa. Ao contrário, mais próximo de escritas
como as de Thomas Bernhard, William Faulkner ou AntonioTabucchi (autores em que
a oralidade assume a frente), os contos de Marcos Vinícius Almeida são
povoadosde narradores e personagens urbanos, moradores das pequenas (quando não
minúsculas) cidades brasileiras, e que nos são revelados com uma linguagem
direta, extremamente contemporânea, sem pretensos regionalismos atualizados ou
mimetismos roseanos.
Vale observar que a Paisagem
interior, aqui, poderia ser também ado interior, do Brasil, para além de uma
remissão mais imediata ao íntimo, dos personagens ou do próprio autor.
Interessante é notar que o título bem expressa o movimento presente nas
narrativas: os lugares por elas trazidos, mais do que simples cenários
externos, são reveladores de qualquer coisa de interior, de interno, aos
personagens.
Esse jogo entre paisagens
interior e exterior, do espelhamento mútuo entre dentro e fora – que nos lembra
o poeta Fernando Pessoa e sua teoria da sensação – faz a riqueza desses
pequenos causos, em que uma aparente mera descrição de uma tempestade, de um
jogo de futebol ou de um corpo morto de um homem sendo salvo por outro, é
carregada de afetos e reflexões existenciais. Tudo com muita sobriedade e às
vezes humor. É através de imagens muito concretas e sensoriais que somos
levados ao interior das personagens, que pode ser, no limite, o interior de nós
mesmos, leitores.
Seria impossível falar desses
contos sem notar, como insistia Júlio Cortázar, a proximidade entre os gêneros
conto e poesia. Para além do ritmo certeiro, asutileza e atenção sensível às
minucias fazem não somente a riqueza, mas também a maturidade do olhar do
autor, que embora tenha reunido pela primeira vez seus contos em um livro, está
longe de poder ser considerado um estreante.
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