quarta-feira, 11 de julho de 2018

Palco de nós dois


Quero nosso palco com cheiro de diário amor anoitecido
Quero esse amor como supremo
semi-Deus enaltecido
Quero o nosso amor cara-de-pau de porta entreaberta
Quero os lençóis mapeando o amor, com nossas marcas
Quero o risco freqüente de qualquer flagrante
Quero ignorar
a campainha, o telefone
Quero ignorar
a minha e a tua fome
Quero os aplausos dos nossos corpos vadios
E todos os ruídos que eles provoquem, sadios
Quero a encenação dos personagens que encarnamos
Quando nos tornamos um
Quero uma luz leve e cansada
Te fazendo sombra pela metade
Quero seus urros, seus sussurros
Seja seu quarto, seja no carro
Seja o escondido, o proibido
Seja na cozinha com o pão a queimar
Seja a janela vizinha escancarada
Seja o nosso amor descarado
Seja o nosso amor seminu
Quero batizá-lo nas praias
Nas margens dos rios
Quero meu cio
Quero seu fraco assobio
Quero seu lento sorriso, a sua exaustão
Pra que se encerre, o nosso ato
Na mais plena e bela cena
O sóbrio espetáculo insensato
Que interpreto
Sem censura
sem veto
Onde nosso teto se faz o sempre
Que o nosso ingresso seja a tênue
Fronteira entre o sentir e o existir
Do que se fantasia eu
Do que se personifica ti

Pedro Rajão

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