Respire.
Expire.
Conte até dez.
Levante o braço direito até mais ou menos a altura da cabeça.
Feche o punho.
Variações do exercício:
flexione o cotovelo encostando o punho no ombro;
estique o cotovelo voltando à posição original.
E respire,
expire.
Em caso de bombas de gás lacrimogênio,
máscaras cairão automaticamente à sua frente.
Puxe uma delas.
Coloque-a sobre o nariz e a boca, ajustando o elástico em volta da cabeça.
Respire normalmente.
Pegue uma cartolina.
Coloque-a no chão, como um colchonete de ioga.
Escreva algo como: “Não acredito que ainda estou lutando por...”
Escreva algo como: “Somos todos...”
Segure a cartolina com as duas mãos de modo que todo o seu corpo será um cone.
Caminhe: um, dois, respire, um, dois, expire.
Caminhe: um, dois, respire, um, dois, expire.
Em caso de bombas de gás lacrimogênio,
coloque a folha no chão entre quem lança as bombas e quem as recebe.
Empilhe todas as folhas que você conseguir de modo a formar textos-barricada.
Agache todo o seu corpo numa posição fetal de modo a encostar o joelho na testa.
Não se esqueça de respirar.
A coisa mais importante da vida é:
respirar.
Em caso de cassetetes,
corra
Use tênis confortáveis e roupas leves, que permitem flexibilidade ao se movimentar.
E corra
sem se esquecer de respirar.
Em caso de ouvir gritos de “Intervenção militar”.
respire...
respire...
conte até mil.
Pegue: fios elétricos. Um pau de arara. Um balde cheio até a borda de fezes. Chame o Magaiver. Sim, chame o Magaiver. O Magaiver certamente foi treinado pela C.I.A. Pegue: uma palmatória, uma quantidade razoável de ácido.
Pegue – senão eu mato a sua mulher! Pegue, seu desgraçado, pegue, sua piranha, senão eu enfio esses fios elétricos na sua boceta, senão eu ligo o gás, afundo sua cabeça nesse balde cheio de merda, seu viado.
Respire – dentro desse balde cheio de merda!
Respire – o cheiro de queimado!
Mas não – a democracia não é um exercício militar.
Sinto muito – porque você não entendeu direito.
Respire corretamente(!)
Expire.
É um exercício, a democracia:
respire / expire.
Em caso de atentado à bala,
levante o braço com o punho fechado a cada vez que alguém gritar
“Marielle, presente”.
Não se esqueça: um assassinato.
Não se esqueça: de respirar.
Afinal, a coisa mais importante da vida é:
(somente o som da respiração / somente o som da expiração).
E repita o movimento
mesmo sabendo que a repetição,
como já disse Jorge Luis Borges, Deleuze-Gattari (1972) e Carle Simon,
é já um novo movimento.
Repita o exercício democrático.
Repita.
Se você fizer direitinho,
mas direitinho,
pode vir a se tornar
uma grande potência democráti/econômica
como é a nort/América!
Lembre-se: não se esqueça – de respirar.
Lembre-se: a coisa mais importante da vida é:
Ana Paula El-Jaick
Um comentário:
Muito bom! Quase fiquei sem ar!
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