quarta-feira, 12 de setembro de 2018

escuta


escuta o ranger das horas no relento
o olhar atento
a antena aberta
o trovão nas veias
escuta o estômago digerindo o tempo
o desvão da alma
o esquecimento
escuta o sangue escorrendo aos poucos
esta fala rala
arranhando o muro
o escombro gasto da palavra impura
o ruir de cada monumento
a cidade em chamas
multidão nas ruas
escuta o corpo carregando insônias
os insultos vindos lá do prédio ao lado
o choro calado no meu peito
os passos no telhado
o banco explodindo na esquina
escuta o estrondo seco do silêncio
este sopro imenso do assombro
o rumor daquilo que não cala

Salvador Passos

Um comentário:

Ulisses de Carvalho disse...

Longo, longo tempo fazia que eu não vinha por aqui, mas valeu voltar, porque gostei bastante do poema (e de outros textos que li agora por aqui). Voltarei mais vezes, há bastante coisa boa por aqui.