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– Ah, mas eu casava com qualquer um – diz a Joana –, porque todos eles são bonitos!
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– Pois é – Regina concorda, e acrescenta: – Os que não têm beleza no rosto, a beleza vai no corpo.
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Essa conversa, meu amigo, segue embalada. Joana rasga elogios aos rapazes, Regina os estica do outro lado. Eu da janela do sobrado tudo ouço: rádio de pilha ligado no jogo do Fluminense pra disfarçar a espionagem. Parecem duas meninas novas, com menos de dezesseis, não fosse uma ter vinte e lá vão tantos e a outra passar dos quarenta. A mais velha é a Joana, ou a mais experiente, como dizem os cavalheiros.
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Pois bem, com seus quarenta – ou quase tantos –, Joana não perde o desejo. Não pode ver um homem logo sonha com o malandro a seu lado, na cama, ou em cima dela, ou no portão, de costas, saindo pra trabalhar; afinal, que importa que ele volte tarde da noite, com cheiro de bar e marca de unha de outra mulher? Ela quer casar, isso é que é. Ela quer casar e sonha isso toda vez que pousa a cabeça no travesseiro. Assiste à novela só pra matar a saudade de como se beija. A cada cena picante, fica com água na boca. E, por mais que os moços desdenhem, está longe de ser feia; tem o cabelo vermelho, felpudo, e, pra deixá-lo apresentável, passa horas na casa das amigas cabeleireiras: todas entusiastas, “mais ou menos profissionais”, dizem. Um cabelo bem bonito por um preço camarada.
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Isso é que é.
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Joana tem pernas grossas; cada coxa, meu amigo, vai pra mais de uma régua – dessas comuns, de se levar pro colégio –, os peitos são bem projetados: um dia, seguramente, foram bons de ter nas mãos; e pra esse fim ainda valem, mesmo que esteja perdida a robustez da juventude.
– Ah, mas eu casava com qualquer um – diz a Joana –, porque todos eles são bonitos!
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– Pois é – Regina concorda, e acrescenta: – Os que não têm beleza no rosto, a beleza vai no corpo.
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Essa conversa, meu amigo, segue embalada. Joana rasga elogios aos rapazes, Regina os estica do outro lado. Eu da janela do sobrado tudo ouço: rádio de pilha ligado no jogo do Fluminense pra disfarçar a espionagem. Parecem duas meninas novas, com menos de dezesseis, não fosse uma ter vinte e lá vão tantos e a outra passar dos quarenta. A mais velha é a Joana, ou a mais experiente, como dizem os cavalheiros.
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Pois bem, com seus quarenta – ou quase tantos –, Joana não perde o desejo. Não pode ver um homem logo sonha com o malandro a seu lado, na cama, ou em cima dela, ou no portão, de costas, saindo pra trabalhar; afinal, que importa que ele volte tarde da noite, com cheiro de bar e marca de unha de outra mulher? Ela quer casar, isso é que é. Ela quer casar e sonha isso toda vez que pousa a cabeça no travesseiro. Assiste à novela só pra matar a saudade de como se beija. A cada cena picante, fica com água na boca. E, por mais que os moços desdenhem, está longe de ser feia; tem o cabelo vermelho, felpudo, e, pra deixá-lo apresentável, passa horas na casa das amigas cabeleireiras: todas entusiastas, “mais ou menos profissionais”, dizem. Um cabelo bem bonito por um preço camarada.
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Isso é que é.
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Joana tem pernas grossas; cada coxa, meu amigo, vai pra mais de uma régua – dessas comuns, de se levar pro colégio –, os peitos são bem projetados: um dia, seguramente, foram bons de ter nas mãos; e pra esse fim ainda valem, mesmo que esteja perdida a robustez da juventude.
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Isso, camarada, não tenho medo de contar, se um dia Joana ler essas linhas, tome isso de elogio.
Isso, camarada, não tenho medo de contar, se um dia Joana ler essas linhas, tome isso de elogio.
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Agora penso por mim, que pensar por outros não tem vez: um dia quisesse o divino que eu fosse o querer de Joana. Porque os rapazes sem camisa miram no longe das janelas as meninas bem de vida que namoram marinheiros. Ah, o divino abençoasse; eu partiria sem medo, de corpo e de alma – mais de corpo nesse caso – e perderia a castidade que o destino me impõe feito grilhão nos pés de escravo, e se o amigo acha que a metáfora padece de anacronismo, pense nisso como algema no punho de preso. Isso sim é que é!
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Elas, lá em baixo, assistem ao desfile dos rapazes pela rua esburacada.
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ESTOU AQUI, dá vontade de gritar. Mas gritar mesmo eu não grito.
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Sou fraco.
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Mas não grito.
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Elas olham cá pra cima e eu aceno com um sorriso.
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O mundo, Joana, é mesmo infinito!
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Eduardo Gaspar
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Agora penso por mim, que pensar por outros não tem vez: um dia quisesse o divino que eu fosse o querer de Joana. Porque os rapazes sem camisa miram no longe das janelas as meninas bem de vida que namoram marinheiros. Ah, o divino abençoasse; eu partiria sem medo, de corpo e de alma – mais de corpo nesse caso – e perderia a castidade que o destino me impõe feito grilhão nos pés de escravo, e se o amigo acha que a metáfora padece de anacronismo, pense nisso como algema no punho de preso. Isso sim é que é!
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Elas, lá em baixo, assistem ao desfile dos rapazes pela rua esburacada.
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ESTOU AQUI, dá vontade de gritar. Mas gritar mesmo eu não grito.
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Sou fraco.
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Mas não grito.
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Elas olham cá pra cima e eu aceno com um sorriso.
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O mundo, Joana, é mesmo infinito!
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Eduardo Gaspar
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