Estava, como de costume, sentado a uma mesa de um famoso
restaurante carioca, no Leblon. Gosto de me sentir um médico, ou um psicólogo,
e fico observando os gestos, a postura, o comportamento e a conduta dos humanos
que me acompanham, mesmo que distantes, nas refeições. Essa é uma espécie de
experiência laboratorial que costumo realizar em locais públicos, sempre com um
olhar crítico. Naquele dia, chamou-me atenção, primeiramente, uma criancinha
muito linda, que tinha certeza ser autista. A pobre criança, totalmente
indefesa, era maltratada por seus pais, que a faziam comer forçosamente,
sujando a roupinha da menina. Um absurdo!
Fugindo dessa realidade imunda, olhei ao redor, procurando
mulheres para examinar, até que visualizei um ser de outro planeta. Loira, com
idade variando entre 20 e 25 anos, ma-ra-vi-lho-sa! Olhos verdes, corpo
delgado, seios volumosos, mas não pareciam ser “siliconizados”. Falava como uma
tagarela. Parecia sentar-se à minha frente, de tão alto que falava. Estava
acompanhada de outra mulher, com quem interagia com entusiasmo. Levantei-me e
esbocei dirigir-me à mesa delas. Parei. Resolvi terminar minha refeição. Continuava
olhando com olhos de sedutor. De repente, nossos olhares cruzaram-se por
milissegundos. Banquei o cortês, ela virou o rosto.
Aquela mulher me enlouquecia, me empolgava. Não podia ficar
parado lá, sem fazer nada. As duas continuavam conversando. Nem pedi a
sobremesa, e sim, a conta. Tive a ideia de pedir ao garçom que deixasse um
bilhete naquela mesa, que ficava bem em direção diagonal, a uns cinco metros de
distância da minha. Hesitei, achando que era coisa de filme, e as mulheres de
hoje detestam clichês. Momentaneamente, as duas trocaram carícias. Seguravam de
maneira confortável as mãos, numa atitude íntima. Terminaram as saladinhas. Eu
já estava suando, primeiro por causa daquela situação, depois porque havia
comido só comida gordurosa.
Levantaram-se. A companheira dela nem era lá aquelas coisas,
mas era até bonitinha. Tinha cabelos castanhos, olhos escuros e média estatura.
Pasmem! Quando a poderosa virou-se de costas, fiquei paralisado, como se uma
serpente tivesse me envenenado. Não sabia dizer se a parte detrás era melhor
que a frontal, e vice-versa. Acabei dando nota 10 para tudo aquilo. Após me
levantar, apertei o passo e comecei a segui-las. Deixaram o restaurante e
pediram que seu carro fosse trazido. Por um momento, distraí-me e comecei a
trocar ideias com o cara do estacionamento. Fiquei feliz quando soube que o
Botafogo havia ganhado o jogo da noite anterior, que não pude ver, devido aos
trabalhos universitários.
Quanto me virei, atentando novamente a elas, me vi num
dilema: não sabia se vomitava ao lembrar os mandamentos bíblicos e toda a
intolerância da religião cristã quanto a desvios do divino, ou se ficava feliz
por respeitar a pluralidade natural do sistema. Julguei ser a segunda opção
mais prudente e consciente, em pleno século XXI. Eram duas mulheres maduras que
traduziam, naquela hora, um amor intenso num beijo que colava suas bocas com
Super Bonder. No início, desmoronei, porque os costumes dos séculos XVII e
XVIII dominavam parte da minha mente. A outra parte era controlada por uma
vontade incontrolável de mostrar que todos têm seu valor, independentemente de
se sentirem atraídos por homens ou mulheres. O carro delas chegou, e foram
embora. Estava muito apaixonado ainda. Minha mente discutia com meu coração, um
duelo que parecia não terminar. Sem alternativas, sentei-me desolado no chão.
Felipe Cassar
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