As coisas não poderiam estar melhor entre nós. Agora eu
moro dentro de Ariane. Depois que eu passei a morar dentro de Ariane, tudo
ficou mais calmo. A paz é constante e o silêncio se ouve lá de fora. Está tudo
bem mais seguro. Ela diz que é porque agora eu sou um novo homem. Ela diz que
depois que eu passei a morar dentro dela, que ela não sente mais a falta das
pessoas que já se foram. Dizem, e eu não estou aqui para negar, que quando se
perde alguém, perde-se também a esperança. E estar dentro dela lhe fez sentir
tudo de novo. Nos divertimos à beça. Ariane dá gargalhadas, quando lhe faço
cócegas por dentro. E eu fico todo bobo! Esperei por isso há anos. Ela me diz
que quer ouvir coisas bonitas saindo de dentro dela. Eu digo: meu bombom de
chocolate com recheio de coco. Sorvete de queijo com doce de leite. Minha
delicinha. Minha riqueza. Meu pitéu. Minha coisinha. Coisinha de louco. Agora
sou eu quem a enche de expectativas. Esperança de gol em reprise de futebol.
Balão de gás que dure para sempre. Três partes iguais de raspadinha. Não
poderíamos estar melhor. Dentro dela não há frio. E a chuva nunca incomoda.
Sempre que há calmaria, ela repousa as mãos sob os seios e conversa comigo:
— Existe alguma coisa que você ama?
— Amo você, Ariane.
— Quanto?
— Muito.
— Desde quando?
— Desde sempre.
('Dentro de Ariane' faz parte de uma série, da qual já publicamosa 'Ariane com asas')
2 comentários:
Fantástico!!!!
eba! :)
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